Já está no ar a terceira temporada de RED, websérie brasileira com temática lésbica que teve mais de 2 milhões de visualizações em 145 países. Escrita por Germana Belo e Viv Schiller, RED conta a história de Mel e Liz, duas atrizes que se conhecem durante a filmagem de um curta-metragem e levam o envolvimento de suas personagens para a vida real.
As roteiristas tinham o desejo de criar um projeto audiovisual brasileiro sobre relacionamentos entre mulheres, trazendo para o contexto nacional temas abordados por programas estrangeiros como The L World, The Fosters e Orange Is The New Black. Dirigida por Fernando Belo e estrelada por Luciana Bollina e Ana Paula Lima, RED estreou em 2014, financiada por uma campanha de crowdfunding e por doações feitas através do Vimeo. Em 2016, a websérie foi adquirida pela empresa francesa Vivendi e passou a ser exibida no Studio+, um aplicativo dedicado a séries curtas.
A terceira temporada terá dez episódios com duração de dez minutos, lançados sempre às terças-feiras no canal de RED no Vimeo. Além do streaming gratuito, também há uma opção on demand que permite acesso imediato a todos os episódios da temporada, ao custo de U$5,99 (cerca de R$ 18). Conversamos com as roteiristas para saber mais sobre a websérie:
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Como surgiu o projeto e o que fez vocês quererem contar essa história?
Viv: Eu e a Germana acompanhamos séries e webséries estrangeiras e sentimos falta de um projeto audiovisual com representatividade nacional. Sabíamos que queríamos criar algo para o público brasileiro, mas não tínhamos ideia de quando o faríamos. Com o apoio que o casal “Clarina” [Clara e Marina, personagens da novela Em Família, exibida em 2014 pela Globo] recebeu do público, percebemos que tínhamos um momento interessante de mobilização no País e entendemos que era uma boa hora para oferecer a história que queríamos contar.
Germana: Nosso desejo era criar uma história que nós, enquanto espectadoras, gostaríamos de assistir, e que retratasse o relacionamento entre duas mulheres de maneira natural e realista, sem recorrer ao estereótipo ou a censura.
Faltam histórias sobre mulheres lésbicas no audiovisual brasileiro?
Viv: Mais do que faltar histórias, acho que de modo geral falta mais realidade em muitas das histórias que vemos hoje. Existe um imediatismo de entrega de paixão e sexo que fica muito à margem de uma história mais complexa e profunda, tal como costuma ser na relação entre mulheres.
Germana: Acho que existe uma carência tanto em termos de quantidade como de qualidade dessas narrativas. Para os grandes veículos, trabalhar a inclusão e representatividade tornou-se rentável, o que tem levado muitos a investirem nesse tipo de história sem um desejo genuíno de contá-la pelo seu valor social, de maneira real e honesta. O que vejo, em muitos casos, é uma romantização exacerbada e dessexualização dessas personagens para que elas sejam mais palatáveis ao grande público. E isso a partir de ideias estereotipadas do próprio feminino, pois homens gays têm tratamento diferente.
Como tem sido a resposta do público?
Germana: Conseguimos estabelecer uma relação de troca muito positiva e produtiva com nosso público. Ele é formado por pessoas que não apenas veem a série, mas que participam ativamente como coprodutores e cocriadores, através de contribuição financeira ou de prestação de serviços, como de legendagem, RP e criação de conteúdo extra, por exemplo. Essa comunidade formada ao redor da série, os REDlovers, é também responsável pelo que conquistamos até hoje.
Como roteiristas, vocês já tinham escrito webséries? O que acham desse formato?
Viv: RED é a minha primeira experiência como roteirista de websérie. Esse formato nos proporciona um alcance maior de público, além de mais autonomia para contar a história do jeito que queremos.
Germana: Também é minha primeira experiência. O curioso é que desde a estreia de RED tem ocorrido uma mudança de status. Durante muito tempo, o formato de séries de curta duração – em se tratando de ficção, principalmente – foi considerado uma solução por pessoas que queriam contar suas histórias mas não dispunham de recursos financeiros suficientes para a produção de algo no formato tradicional. Hoje, isso deixou de ser solução pra virar demanda. Além disso, é um formato que, com a democratização dos meios de produção e exibição e, consequentemente, com o crescimento da produção independente, tem dado voz a muita gente silenciada pela grande mídia e representatividade para quem ainda pouco se reconhece nos produtos criados pela indústria. O que, na minha opinião, é sua característica mais positiva.