Caso Harvey Weinstein: Júri indica estar dividido em relação a algumas acusações

O júri de sete homens e cinco mulheres que está julgando o produtor Harvey Weinstein em Nova York indicou ter chegado a veredito unânime em relação a algumas das acusações, mas não todas.

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Nesta sexta-feira (21), o quarto dia de deliberações, os jurados perguntaram ao juiz James Burke se era aceitável não terem chegado a uma decisão unânime em relação a uma ou mais acusações de agressão sexual predatória De acordo com a Associated Press, os advogados de Weinstein disseram que aceitariam um veredito parcial, mas a promotoria, não. O juiz pediu que os jurados trabalhassem mais um pouco antes de liberá-los para o fim de semana. As deliberações só voltam a acontecer na segunda-feira (24).

Weinstein, que tem 67 anos, responde por acusações de estupro, ato sexual criminoso e agressão sexual predatória. Se for considerado culpado dos dois primeiros crimes, o produtor poderá ser sentenciado a até 25 anos de prisão. A alegação de agressão sexual predatória é mais séria, pois o acusa de ter cometido crimes sexuais graves contra mais de uma pessoa e prevê prisão perpétua como sentença máxima.

Apesar de cerca de 80 mulheres terem publicamente acusado Weinstein de assédio e/ou abuso sexual, o processo criminal se refere às alegações de apenas duas. Uma delas é a assistente de produção Mimi Haleyi, que disse ter sido forçada a fazer sexo oral no produtor no apartamento dele em Nova York em 2006. A outra, Jessica Mann, afirma ter sido estuprada por Weinstein em um hotel de Manhattan em 2013.

Muitas acusações contra Weinstein não se transformaram em indiciamento por se referirem a episódios antigos. É o caso da atriz Annabella Sciorra, que acusou Weinstein de tê-la estuprado em Nova York em 1993, mas não pôde processá-lo porque o caso prescreveu. Mesmo assim, a atriz foi chamada pela promotoria para dar seu depoimento no tribunal, assim como outras quatro mulheres, na tentativa de mostrar padrão de comportamento criminoso por parte do produtor.

Na prática, para condenar Weinstein por agressão sexual predatória os jurados precisam concordar em dois pontos: primeiro, que ele cometeu um crime sexual de primeiro grau contra Sciorra; segundo, que ele cometeu um crime sexual de primeiro grau contra Haleyi ou Mann, os ambas. Durante as deliberações, os jurados fizeram vários pedidos para rever informações relacionadas à Sciorra.

Ashley Judd, Annabella Sciorra e Salma Hayek no palco do Oscar 2018:
as três acusaram Harvey Weinstein publicamente – Foto: Getty Images

A primeira reportagem sobre os abusos de Harvey Weinstein foi publicada em 5 de outubro de 2017 pelo New York Times. As repórteres Jodi Kantor e Megan Twohey falaram com atrizes como Ashley Judd e ex-funcionárias das empresas do produtor, a Miramax e a Weinstein Company, além de consultarem documentos legais, emails e relatórios internos. De acordo com o jornal, os episódios de assédio costumavam acontecer em quartos de hotel, para os quais as mulheres eram convidadas supostamente a trabalho.

Cinco dias depois, uma reportagem de Ronan Farrow na New Yorker trouxe depoimentos de outras mulheres, afirmou que Weinstein foi acusado de estupro e publicou um áudio no qual o produtor tenta convencer uma mulher a entrar em seu quarto e admitindo contato físico indevido. A gravação fora obtida em 2015 por uma escuta depois de a modelo Ambra Battilana Gutierrez ter feito uma denúncia para a polícia de Nova York. Posteriormente, ela assinou um acordo e a investigação foi abandonada.

Uma vez que o escândalo foi revelado, dezenas de mulheres vieram a público contar episódios de assédio envolvendo Weinstein, entre elas Uma Thurman, Angelina Jolie, Cara Delevingne, Eva Green, Gwyneth Paltrow, Heather Graham, Kate Beckinsale e Lena Headey. Reportagens posteriores, sobretudo de Farrow, mostraram como o produtor intimidava jornalistas, policiais e outras pessoas para manter os abusos em segredo.

Logo após o escândalo ganhar as manchetes de todo o mundo, Weinstein foi demitido de sua própria empresa e renunciou ao seu posto no conselho diretor. Em março de 2018, a companhia entrou com um processo de falência. Weinstein também foi expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela entrega do Oscar, da Academia Britânica de Cinema e Televisão e do Sindicato dos Produtores. Sua mulher, a estilista Georgina Chapman, anunciou o fim do casamento e investigações criminais sobre o caso foram abertas pelas polícias de Nova York, Los Angeles e Londres. A de Nova York foi a que avançou mais rápido: em maio de 2018, Weinstein se entregou à polícia, sendo solto no mesmo dia sob fiança. No mesmo mês, o produtor foi formalmente indiciado. O julgamento começou em 6 de janeiro de 2020.

Horas depois de o julgamento começar em Nova York, procuradores de Los Angeles que investigavam Weinstein desde 2017 anunciaram suas próprias acusações criminais contra ele. O produtor foi acusado de estuprar uma mulher e de cometer crimes sexuais contra outra em 2013, tendo ambos os casos acontecido em hotéis da cidade. “As provas demonstram que ele utilizou seu poder e influência para ter acesso às vítimas e, logo, cometer crimes violentos contra elas”, disse a procuradora Jackie Lacey, segundo a agência France Presse. Se condenado pelas acusações feitas em Los Angeles, Weinstein pode pegar até 28 anos de carreira.

Vale lembrar, também, que Weinstein e os chefes de sua antiga empresa, a Weinstein Company, foram alvo de uma ação civil que representou mais de 30 mulheres. No ano passado, um acordo prévio estimado em US$ 25 milhões foi alcançado e, por ele, o produtor não é obrigado a admitir culpa.

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