Globo de Ouro celebra atrizes, mas ignora filmes dirigidos por mulheres

Glenn Close, Olivia Colman, Regina King e Sandra Oh foram algumas das vencedoras da edição deste ano do Globo de Ouro. Realizada neste domingo (6) em Los Angeles, a cerimônia não premiou um único filme dirigido por mulher – em nenhuma categoria, nem mesmo as de atuação.

As indicações já sinalizavam para isso: em primeiro lugar, não havia nenhuma cineasta na disputa pelo prêmio de direção (mais uma vez); depois, nenhum longa dirigido por mulher concorria nas categorias de melhor filme de drama ou de comédia/musical, as mais importantes do Globo de Ouro.

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Deborah Davis, a única mulher que concorria a melhor roteiro, por A Favorita, também não venceu, de modo que, na prática, a premiação destacou apenas atrizes, com exceção de Lady Gaga, que apesar de concorrer pela atuação em Nasce Uma Estrela acabou levando apenas o troféu de canção original. Os principais troféus foram entregues a filmes que a crítica recebeu com pouco entusiasmo: Bohemian Rhapsody foi eleito melhor drama e Green Book: O Guia, melhor comédia. Nas categorias de televisão, venceram The Americans, O Método Kominsky The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story.

Foi um Globo de Ouro menos eletrizante do que o do ano passado, quando mulheres tomaram conta da cerimônia, com discursos inspirados e provocações, além de terem causado barulho vestindo preto no tapete vermelho, em protesto contra o assédio em Hollywood e outras áreas de trabalho. Mas isso não significa que igualdade de gênero e representatividade foram assuntos esquecidos.

Fazendo história como a primeira pessoa de origem asiática a apresentar o Globo de Ouro, Sandra Oh disse ter aceito o convite “para olhar para a plateia e testemunhar este momento de mudança”. “Não estou me enganando: no ano que vem pode ser diferente, e provavelmente será. Mas agora, este momento é real. Acreditem em mim: é real, porque eu os vejo e os vejo, todas esses rostos de mudança”, afirmou a artista, que também ganhou o prêmio de melhor atriz de série dramática por Killing Eve, tornando-se a primeira mulher de origem asiática a ganhar mais de um Globo de Ouro.

Premiada como atriz coadjuvante por Se a Rua Beale Falasse, Regina King se comprometeu a adotar a paridade de gênero em seus próximos trabalhos como produtora. “Nos próximos dois anos, tudo o que produzir terá 50% de mulheres”, afirmou. “Desafio todo mundo que está em posição de poder – não só na nossa indústria, mas em todas. Desafio vocês a se desafiarem, demonstrarem solidariedade e fazerem o mesmo.”

Já Glenn Close emocionou ao traçar um paralelo entre sua mãe a sua personagem em A Esposa, que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz. “Quando estava na casa dos 80 anos ela me disse: ‘Sinto que não conquistei nada'”, contou. “Aprendi com essa experiência que temos [as mulheres] de encontrar nossa realização pessoal. Temos de seguir os nossos sonhos. Temos de dizer: ‘eu posso fazer isso, e deve ser permitido que eu faça isso.'”

A cerimônia também marcou a entrega do primeiro Troféu Carol Burnett, que será anual homenageará o conjunto da obra de artistas de televisão. Como não poderia deixar de ser, a própria Burnett foi a primeira pessoa a receber o prêmio, e fez um bonito discurso sobre como o tempo que viveu na televisão, marcado por grandes investimentos por parte das emissoras em shows de variedade e comédia, ficou no passado.

Veja todas as mulheres premiadas no Globo de Ouro 2019:

CINEMA

Melhor atriz de drama
Glenn Close, A Esposa

Melhor atriz de comédia
Olivia Colman, A Favorita

Melhor atriz coadjuvante
Regina King, Se a Rua Beale Falasse

Melhor canção original
Lady Gaga – “Shalow”, Nasce uma Estrela

TV

Melhor atriz de drama
Sandra Oh, Killing Eve

Melhor atriz de comédia
Rachel Brosnahan, The Marvelous Mrs. Maisel

Melhor atriz de minissérie ou filme para a TV
Patricia Arquette, Escape at Dannemora

Melhor atriz coadjuvante
Patricia Clarkson, Objetos Cortantes


Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema

Foto: Frazer Harrison/Getty Images

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