Documentário de Angela Zoé quer apresentar Henfil às novas gerações

Apresentar a obra de um dos mais importantes artistas brasileiros às novas gerações: este é o objetivo de Henfil, documentário dirigido por Angela Zoé sobre a vida e a carreira de Henrique de Souza Filho (1944-1988), cartunista, escritor e jornalista que foi um dos principais nomes de O Pasquim.

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Em cartaz no cinemas, o documentário começou a ser pensado em 2016, quando Angela foi provocada por Marcos de Souza, sobrinho do artista, após fazer a produção de Betinho, a Esperança Equilibrista (2015). Ao topar o desafio, ela decidiu que personagem tão irreverente não poderia ganhar um filme convencional.

“Minha angústia era em relação à garotada não saber da existência do Henfil”, contou Angela, em entrevista por telefone ao Mulher no Cinema. “Pensei: tenho de ter uma tática, algo que chame a atenção. A galera gosta de animação, de meme, de humor. Como juntar tudo isso?”

Angela então convidou um grupo de alunos do curso de Animação do SENAI Laranjeiras, no Rio de Janeiro, para um workshop. Escolhidos por dois professores da escola, os jovens nem sabiam sobre o que seria a oficina quando toparam participar. Quando o tema foi revelado, muitos demonstraram não saber quem era Henfil.

Henfil foi um dos principais
nomes de “O Pasquim”

Ao longo de um mês, os estudantes pesquisaram e produziram uma animação em curta-metragem, também presente no documentário, baseada na obra de Henfil. Eles puderam conversar com amigos e colaboradores do artista, como Ziraldo, Jaguar, Sérgio Cabral e Tárik de Souza em encontros filmados por Angela e uma equipe que incluía alunos de outros cursos de audiovisual da escola.

O registro destes momentos foi feito como numa espécie de reality show: “Não interferia nada”, disse a diretora.

Além do workshop, o documentário também mostra entrevistas com amigos e familiares de Henfil e imagens inéditas em Super 8 filmadas pelo próprio artista durante suas viagens. São abordados tanto questões pessoais, como a saúde frágil causada pela hemofilia, quanto o contexto político brasileiro a partir do modo como Henfil usava desenhos para driblar a censura da ditadura militar.

A diretora afirma que o momento da estreia, pouco mais de um mês após as eleições presidenciais e em meio à onda conservadora do país, não teve viés político intencional. Exibido no ano passado em festivais, o filme chegou às telas só agora por questões financeiras e burocráticas. “Foi coincidência”, afirmou.

Mas Angela entende que o filme provoca reflexões sobre como o artista veria o momento atual do país. Para ela, se estivesse vivo, Henfil estaria muito ativo, usando redes sociais e “todas as mídias”, mas também “inquieto e triste”. “Tárik de Souza diz que ele estaria muito triste com os rumos que a esquerda tomou e as escolhas que fez. Ele era de esquerda, mas da esquerda ideológica mesmo, que queria mudar pelos propósitos.”

Henfil é apenas uma das personalidades brasileiras no radar de Angela, que comanda a produtora Documenta Filmes há mais de 20 anos. Diretora de Meu Nome É Jacque (2016), sobre a ativista transexual brasileira Jaqueline Rocha Côrtes, ela tem projetos em diferentes estágios de produção sobre Ary Barroso (1903-1964), Di Cavalcanti (1897-1976), Elizeth Cardoso (1920-1990) e Alcione, entre outros, todos em formato documentário.

A cineasta atribui o gosto pela cinebiografia à sua formação: Angela se graduou em História e fez mestrado em Neurociências Clínicas. “Tudo que é humano sempre me interessou”, disse. “Tenho carinho especial por contar histórias de pessoas e quero ser reconhecida como cinebiógrafa.”


Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema

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