De volta à direção após 12 anos, Adelia Sampaio estreia novo filme no Festival de Curtas

Adelia Sampaio está de volta. Após doze anos longe da direção, a cineasta celebra o lançamento de seu novo trabalho, O Mundo de Dentro, que estreia nesta quinta-feira (23) no Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo. E se muita coisa mudou no mundo e no cinema neste período, o mesmo pode ser dito sobre a trajetória de Adelia, que aos 73 anos vive a experiência de ser redescoberta pelo público.

A carreira, na verdade, é longa: Adelia foi a primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem brasileiro lançado nos cinemas – Amor Maldito, de 1984. Depois disso, dirigiu outros filmes e trabalhou por dez anos como assistente de direção de Miguel Falabella no teatro. Mas seu nome só ganhou destaque recentemente, graças à historiadora Edileuza Penha de Souza, professora da Universidade de Brasília (UnB), e a uma entrevista publicada em 2016 pelo site Blogueiras Negras. O texto, escrito por Renata Martins e Juliana Gonçalves, tinha o título: “O racismo apaga, a gente reescreve.”

Desde então, e em meio à discussão sobre a presença da mulher e da mulher negra no cinema, Adelia tem viajado pelo País para debates, festivais e seminários. Não poderá estar presente à exibição do curta em São Paulo, por exemplo, porque já tinha dois outros compromissos profissionais no Rio de Janeiro. “Sou a louca que está retomando a carreira”, brincou, em entrevista por telefone ao Mulher no Cinema. “Minha neta diz: ‘Ô vóvi, você não tá podendo, não’. E eu digo: ‘Tô!'”

Imagem do set de “O Mundo de Dentro” – Foto: Facebook/Adelia Sampaio

Adelia define como “delírio” a experiência de voltar à direção, principalmente por causa das mudanças tecnológicas. “Fiquei fascinada com o digital”, contou. “Fizemos o curta em dois dias! Eu mesma fiquei assustada.”

Com oito minutos de duração, O Mundo de Dentro aborda a geração dos anos 1960, da qual Adelia faz parte, especialmente o abalo causado pelos casos de Aids que começaram a surgir no período pós-ditadura. “É uma reflexão de uma das mulheres [dessa geração], que pode até ser eu. Reflito olhando para dentro de mim e me interrogando”, define a diretora, que escalou a atriz Stella Miranda para o papel principal. “Utilizo um discurso de metalinguagem, por ser um retorno ao meu cinema”, completou Adelia, que pôde acrescentar mais um trabalho à longa parceria com Paulão, como ela chama o diretor de fotografia Paulo Cesar Mauro. “São dois pretos fazendo esse filme, entendeu?”

Mas a equipe de O Mundo de Dentro também inclui profissionais com quem Adelia trabalhou pela primeira vez. “É o meu encontro com uma geração que me encanta muito. Acho que o cinema brasileiro terá um bom futuro com essa galera que está correndo atrás, buscando seu espaço. É difícil, mas não é impossível – e eu posso servir de exemplo”, comentou a diretora. “Não é porque você nasceu de um lado do muro que tem de ficar lá. Você tem de pular. Foi basicamente o que eu fiz.”

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Exibições de O Mundo de Dentro no Festival de Curtas:
23/08 – 17h – Centro Cultural São Paulo
24/08 – 21h30 – CineSesc
28/08 – 16h – Cinusp
Mais informações no site


Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema

Foto do topo: Érika Mayumi para o FIM – Festival Internacional de Mulheres no Cinema 

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