Cicely Tyson, atriz e ícone do cinema americano, morre aos 96 anos

A atriz americana Cicely Tyson, dona de uma premiada carreira de sete décadas, morreu nesta quinta-feira (28), aos 96 anos. A notícia foi anunciada por seu agente, Larry Thompson, que não divulgou a causa da morte. Apenas dois dias antes, na terça, a atriz lançara sua autobiografia, Just as I Am.

Com importantes trabalhos no cinema, na televisão e no teatro, Tyson buscou quebrar estereótipos referentes à representação dos negros em Hollywood. “Nós, atrizes negras, interpretamos tantas prostitutas, viciadas em drogas, domésticas, sempre [retratadas de um jeito] negativo”, disse ela à revista Parade, em 1972, numa entrevista citada pelo jornal The New York Times. “Não vou mais interpretar este tipo de papel sem caráter, mesmo se tiver de voltar a passar fome”, completou a atriz.

“Tyson abriu caminho para outros atores ao recusar papéis que diminuíam o povo negro. Ela estimulou seus colegas a fazerem o mesmo e por várias vezes ficou sem trabalhar”, escreveu no Times. “Ela criticava filmes e programas que mostravam personagens negros como criminosos, servis ou imorais, e insistia que os afro-americanos fossem retratados com dignidade, mesmo quando fosse pobres e oprimidos.”

Cicely Tyson em “Lágrimas de Esperança” e com os dois Emmys que ganhou por “The Autobiography of Miss Jane Pittman”

Trabalhos como Lágrimas de Esperança (1972), pelo qual concorreu ao Oscar, e The Autobiography of Miss Jane Pittman (1974), pelo qual ganhou o Emmy, fizeram de Tyson uma das atrizes mais importantes da década de 1970. Manteve-se como uma referência durante toda a sua longa carreira, atuando em cerca de 30 filmes e dezenas de séries de televisão, incluindo How to Get Away With Murder, seu último trabalho.

Tyson também ganhou um Tony por seu trabalho no teatro, e em 2018 tornou-se a primeira mulher negra a receber um Oscar honorário. Responsável por entregar a estatueta, a diretora Ava DuVernay disse ter pedido para que algumas amigas, todas mulheres negras, definissem Tyson em uma só palavra. No palco da premiação, contou algumas das respostas: Taraji P. Henson disse “tesouro”; Regina King, “autêntica”; Shonda Rhimes, “legendária”; Kerry Washington, “divina”; Oprah Winfrey, “nobre”. 

DuVernay também ofereceu sua própria definição: “Você é uma semente para tantas de nós, a rosa que todas adoramos”, afirmou. “Nós florescemos por sua causa e por você.”

Ava DuVernay entregou o Oscar honorário para Cicely Tyson em 2018 – Foto: Divulgação/AMPAS

Tyson nasceu em Nova York em 1924 e foi criada no bairro do Harlem. Começou sua carreira como modelo e atriz de teatro, atuando dentro e fora do circuito da Broadway. Depois de papéis pequenos em filmes e séries, chamou a atenção de público e crítica como Portia em Por que tem de ser assim? (1968). No longa Lágrimas de Esperança interpretou Rebecca, a mulher de um homem preso por roubar comida para os filhos na Louisiana dos anos 1930; no telefilme The Autobiography of Miss Jane Pittman, assumiu o papel título, interpretando uma mulher de 110 anos que relembra sua vida, da escravidão ao movimento pelos direitos civis dos anos 1960.

Ao receber o Oscar honorário, Tyson falou sobre a reação que este trabalho provocou em sua mãe, que fora contra sua decisão de seguir a carreira de atriz. “Durante muito tempo, queria ouvir algo positivo vindo dela”, afirmou. “Quando fiz  Jane Pittman, ela disse: ‘Estou muito orgulhosa de você’. Se não tivesse ouvido aquelas palavras, nada disso faria diferença para mim.”

Além de ganhar dois Emmys por Jane Pittman (melhor atriz de drama e atriz do ano), ela também foi premiada como atriz coadjuvante de minissérie ou especial para a televisão por Tempos de Guerra (1994). No total, Tyson concorreu ao prêmio 16 vezes, cinco delas pelo trabalho em How to Get Away With Murder.

Em 2020, ela também atuou em Cherish the Day, série criada e produzida por DuVernay. Já os trabalhos no cinema incluem filmes tão diversos quanto The River Niger (1976), Tomates Verdes Fritos (1991), Diário de uma Louca (2005), Histórias Cruzadas (2011), A Sombra do Inimigo (2012) e A Melhor Escolha (2017).


Foto do topo: Axelle/Bauer-Griffin/Getty Images

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