A chinesa Chloé Zhao tornou-se a segunda mulher – e a primeira mulher não branca – a ganhar o Oscar de direção, entregue neste domingo (25). Zhao foi reconhecida por Nomadland, que também ganhou como melhor filme, na segunda vez que um longa de uma diretora venceu o principal troféu da Academia.

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Zhao venceu 11 anos após Kathryn Bigelow tornar-se a primeira mulher a ganhar o Oscar de direção por Guerra ao Terror, em 2010. O longa de Bigelow foi o primeiro de uma diretora a levar o prêmio de melhor filme.

Em seu discurso, Zhao agradeceu à equipe de Nomadland e compartilhou o verso de um poema chinês que a marcou desde a infância: “No nascimento, as pessoas são inerentemente boas”. “Este prêmio é para aqueles que têm fé e coragem para se agarrar à bondade que existe nelas e nos outros, mesmo quando é muito difícil fazer isso”, afirmou. “Vocês me inspiram a seguir em frente.”

A edição de 2021 do Oscar foi a primeira em toda a história na qual mais de uma mulher disputou o prêmio de direção, já que Emerald Fennell também concorria por Bela Vingança. O Oscar só indicava homens ao troféu de direção desde 2018, quando Greta Gerwig disputou por Lady Bird: A Hora de Voar. Além de Gerwig, Fennell, Zhao e Bigelow, foram indicadas Lina Wertmüller, por Pasqualino Sete Belezas (1975); Jane Campion, por O Piano (1993); e Sofia Coppola, por Encontros e Desencontros (2003).

Nascida em Pequim em 1982, Chloé Zhao (na verdade batizada como Zhào Tíng) cresceu assistindo filmes e desenhando mangás. Sua mãe era funcionária de um hospital, e seu pai, executivo de uma grande empresa. Aos 14 anos Zhao se mudou para a Inglaterra para estudar em um colégio interno, e em 2000 foi para os Estados Unidos, onde finalizou o Ensino Médio e começou a carreira.

Zhao formou-se primeiro em ciências sociais, mas depois cursou cinema na Universidade de Nova York, tendo Spike Lee como um de seus professores. Já nos projetos realizados durante a faculdade começou a trabalhar com atores não profissionais, o que se tornaria um traço marcante em sua obra.

Depois dos curtas Post (2008), The Atlas Mountains (2009), Daughters (2010) e Benachin (2011), Zhao estreou na direção de longas com Songs My Brothers Taught Me (2015), exibido em Cannes e indicado a melhor primeiro filme no Spirit Awards, o Oscar do cinema independente americano.

Mas foi o segundo longa, Domando o Destino (2017), que realmente chamou a atenção do público e da indústria – inclusive a da atriz Frances McDormand. Depois de assistir ao longa, McDormand convidou Zhao a dirigir Nomadland, projeto que estava desenvolvendo como produtora. O filme é baseado em um livro de não ficção no qual Jessica Bruder conta histórias de nômades americanos modernos: pessoas que, em meio à recessão, passam a viver em vans e a viajar pelo país conforme encontram trabalhos temporários. Adaptando a obra para o cinema, Zhao incluiu uma personagem fictícia, Fern, interpretada por McDormand.

Nomadland estreou no Festival de Veneza, ganhou o Leão de Ouro e deu início a uma bem-sucedida trajetória que incluiu vitórias no Globo de Ouro e nos prêmios do Sindicato dos Diretores e dos Produtores, entre vários outros. No Brasil, o lançamento nos cinemas foi mantido apesar da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), com a estreia prevista para 29 de abril nas salas que estiverem abertas.

Agora, Zhao se prepara para fazer a passagem do cinema independente para o blockbuster. Ela dirigiu Os Eternos, filme baseado nos quadrinhos da Marvel que tem estreia prevista para 2021, e está desenvolvendo uma versão futurista da história de Drácula para a Universal. Aos interessados em conhecer melhor a carreira de Zhao, uma boa notícia: seus dois primeiros longas podem ser vistos no streaming.

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Luísa Pécora é jornalista e criadora do Mulher no Cinema

Foto do topo: Chris Pizzello-Pool/Getty Images/AFP