Agnès Varda, cineasta influente e pioneira, morre aos 90 anos

Agnès Varda, uma das diretoras mais importantes da história do cinema, morreu nesta quinta-feira (28) aos 90 anos. De acordo com o Hollywood Reporter, Varda morreu em sua casa, rodeada pela família e por amigos, após uma breve luta contra um câncer de mama.

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Nome fundamental da nouvelle vague, Varda foi uma cineasta influente tanto na ficção quanto no documentário, a única mulher a ganhar a Palma de Ouro honorária e a primeira diretora a ganhar o Oscar pelo conjunto da obra. Em mais de 60 anos de carreira, manteve-se como uma força criativa sem paralelos e dona de um olhar interessado e vital sobre as pessoas, o cinema e a imagem.

Seu último filme, Varda par Agnès, foi exibido em fevereiro deste ano no Festival de Berlim. Documentário autobiográfico que será lançado no Brasil, o longa fala sobre a experiência de Varda como diretora e reflete sobre o que ela chamava de “cine-escrita”. Para ela, os principais elementos do cinema – composições, pontos de vista, movimentos, ritmos, edição – eram escolhidos da mesma forma que um escritor escolhe palavras.

Em entrevistas sobre o longa, ela disse que planejava não fazer mais filmes e dedicar-se a instalações de arte. Questionada pelo Hollywood Reporter se o documentário representava sua “última palavra”, ela disse: “Eu nunca quis dizer nada, só queria olhar para as pessoas e compartilhar.”

Nascida Arlette Varda em 30 de maio de 1928 em Ixelna, na Bélgica, ela se mudou para a França na adolescência e aos 18 anos trocou seu nome para Agnès. Estudou história da arte e fotografia, e foi o trabalho como fotógrafa que a levou a se interessar por cinema. Seu primeiro longa-metragem foi La Pointe Courte, de 1955, considerado por muitos críticos como um dos filmes que inspiraram a nouvelle vague, movimento que marcou o cinema produzido na França no fim dos anos 1950 e na década de 1960. Neste período, Varda se alinhou mais ao grupo conhecido como Rive Gauche, que também incluía Alain Resnais (1922-2014) e Marguerite Duras (1914-1996), entre outros.

Seu segundo longa, Clèo das 5 às 7 (1962), é um de seus mais celebrados trabalhos, e competiu pela Palma de Ouro em Cannes. Estrelado por Corinne Marchand, o filme acompanha uma cantora durante duas horas, enquanto espera o resultado de uma biópsia para saber se está com câncer. É uma de várias produções em que Varda colocou as mulheres no centro, como também aconteceu em Uma Canta, a Outra Não (1977), Sem Teto Nem Lei (1985) e Jane B. por Agnès V. (1988), entre outras.

Varda foi casada com o diretor Jacques Demy de 1962 até a morte dele, em 1990, e abordou sua vida e carreira em filmes como Jacquot de Nantes (1991) e O Universo de Jacques Demy (1995). O casal teve dois filhos: o ator, diretor e produtor Mathieu Demy e a atriz, figurinista e produtora Rosalie Varda.

Rosalie produziu os dois últimos longas de sua mãe: além do documentário exibido em Berlim, também o premiadíssimo Visages, Villages, que rendeu à Varda sua primeira indicação ao Oscar – e fez dela, então aos 89 anos, a pessoa mais velha a concorrer à estatueta. No longa, Varda e o codiretor JR viajam pela França para conhecer moradores de pequenos vilarejos, tirar seus retratos e compartilhá-los em espaços públicos. A diretora se coloca em cena, como fez em filmes como Os Catadores e Eu (2000) e As Praias de Agnès (2008), mas, sobretudo, dedica-se a contar a história de pessoas comuns, um traço marcante de seu cinema. Em fevereiro, na entrevista ao Hollywood Reporter, ela definiu assim a sua trajetória:

“Me mantive fiel ao ideal de compartilhar emoções e impressões, e tenho tanta empatia pelas outras pessoas que me aproximo daqueles sobre quem não falamos muito. Tenho 65 anos de trabalho na minha bolsa, e quando coloco a bolsa no chão, o que sai dela? Sai o desejo de encontrar ligações e relações com diferentes tipos de pessoas. Não faço filmes sobre a burguesia, os ricos, a nobreza. Minha escolha foi mostrar pessoas que são, de certa forma, mais comuns, e ver que cada uma delas tem algo de especial, interessante, raro e bonito. Este é meu modo natural de olhar as pessoas.”

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