5 motivos para ver “Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos”

Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (18) um mês após ter estreado nas salas portuguesas, nas quais fez quase 5 mil espectadores, segundo dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual referentes ao período até 10 de abril.

Entrevista: Renée Nader Messora fala sobre Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos
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Co-produção entre Brasil e Portugal, o filme de Renée Nader Messora e João Salaviza está definido como documentário, mas os diretores já declararam que pode ser visto como uma ficção construída com uma base de realidade forte. Abaixo, veja cinco motivos para assistir a Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos:

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O filme é protagonizado pelos índios krahô.
Mais do que brasileiro, este “é um filme indígena”, como disse a própria Renée em entrevista ao Mulher no Cinema. Chuva… acompanha a história do jovem índio Ihjãc que, após encontrar o espírito do seu falecido pai, se vê obrigado a fazer a festa de fim de luto – o pàrcahàc. Ao descobrir que seu dever é se transformar em xamã, ele decide fugir para a cidade. O jovem sente que, se ficar na aldeia, poderá morrer. A atuação de Ihjãc é singela, forte e, por vezes, cômica. Ouvir sua voz, em sua língua, é importantíssimo. Na vida real, Ihjãc tinha 16 anos quando fez o filme, é mesmo casado com a Kôtô e tem aquele filho. A diferença é que o pai dele está vivo.

As filmagens foram na Aldeia da Pedra Branca.
Você sabe onde fica a Aldeia da Pedra Branca? Provavelmente grande parte dos brasileiros desconhece a Terra Indígena Krahô, no Tocantins. O território krahô tem cerca de 3,5 mil pessoas distribuídas por 35 aldeias, e a Pedra Branca é uma espécie de capital, com 500 habitantes. As paisagens captadas por Renée e Salaviza, além de belas, mostram um Brasil que tampouco é cenário das produções audiovisuais.

O filme foi exibido e premiado no Festival de Cannes.
Além de ter vencido o prêmio especial do júri na mostra Um Certo Olhar, Chuva… marcou presença em Cannes de outra forma. A equipe do filme aproveitou o tapete vermelho do famoso evento para protestar, erguendo cartazes que diziam “Demarcação já” e “Pelo fim do genocídio indígena”. Isso expôs internacionalmente como os krahô estão ameaçados, principalmente pela monocultura de soja e cana e pela pecuária, segundo disseram os diretores na ocasião. O longa ainda percorreu mais de 50 festivais internacionais.

O momento político do Brasil e a colonização portuguesa.
A estreia de Chuva… faz imenso sentido já que o governo de Jair Bolsonaro está impondo uma agenda econômica que põe em risco a sobrevivência dos índios. Hoje, há 300 povos indígenas que resistem e ainda existem no país. Enquanto isso, em Portugal, o lançamento do filme levantou a discussão do pós-colonialismo – apesar de muita gente sequer discutir o colonialismo fora do âmbito acadêmico, e de algumas escolas não considerarem que Portugal fez um movimento de invasão e colonização.

O trabalho de cinema feito pela diretora nas aldeias indígenas.
Após uma primeira visita à Aldeia da Pedra Branca em 2009, Renée passou a fazer diversos projetos com a comunidade, gravando sons e vídeos de histórias, ritos, mitos e cantigas que estavam se perdendo. Hoje, ela participa da mobilização do coletivo Mentuwajê Guardiões da Cultura, que reúne cinegrafistas e fotógrafos indígenas e busca usar o audiovisual para a autodeterminação e o fortalecimento da identidade cultural dos índios. Salaviza, que é companheiro de Renée, foi à aldeia pela primeira vez em 2014.


Letícia Mendes é jornalista e mestranda em estudos sobre as mulheres.

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