Quem é Chloé Zhao, diretora de ‘Nomadland’ e ‘Eternos’

Diretora, produtora, roteirista e montadora: a multitalentosa Chloé Zhao tornou-se um dos nomes mais badalados de Hollywood depois de fazer história no Oscar com Nomadland e entrar para o Universo Cinematográfico da Marvel assumindo a direção do filme Eternos.

O Oscar e a Marvel apresentaram Zhao ao grande público, mas a cineasta já era muito celebrada no cinema independente, com vários de seus filmes sendo exibidos e premiados em festivais internacionais.

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Nascida em Pequim em 1982, Chloé Zhao (na verdade batizada como Zhào Tíng) cresceu assistindo filmes e desenhando mangás. Sua mãe era funcionária de um hospital, e seu pai, executivo de uma grande empresa. Aos 14 anos Zhao se mudou para a Inglaterra para estudar em um colégio interno, e em 2000 foi para os Estados Unidos, onde finalizou o Ensino Médio e começou a carreira.

Zhao formou-se primeiro em ciências sociais, mas depois cursou cinema na Universidade de Nova York, tendo Spike Lee como um de seus professores. Já nos projetos realizados durante a faculdade Zhao começou a trabalhar com atores não profissionais, o que se tornaria um traço marcante em sua obra.

Os três primeiros filmes de Chloé Zhao: “Songs My Brothers Thaught Me”, “Domando o Destino” e “Nomadland”

Depois dos curtas Post (2008), The Atlas Mountains (2009), Daughters (2010) e Benachin (2011), Zhao estreou no longa com Songs My Brothers Taught Me (2015), exibido em Cannes e indicado a melhor primeiro filme no Spirit Awards, o Oscar do cinema independente. O filme é centrado em Johnny e Jashaun, irmãos que vivem em uma reserva indígena da Dakota do Sul. A ligação dos dois é colocada à prova diante da difícil situação econômica e familiar em que vivem, principalmente após a morte repentina do pai.

Além do roteiro e da direção, Zhao também assumiu a montagem de Songs My Brothers Taught Me, algo que tinha feito em dois de seus curtas e que repetiria mais tarde em Nomadland. O trabalho como montadora é um dos que ela mais gosta, segundo contou à Hollywood Reporter:

“Me sinto mais feliz na ilha de edição do que em qualquer outro lugar durante o processo [de fazer um filme]. Cresci querendo ser uma artista de mangá. Antes de saber que podia contar histórias em palavras, já estava contando histórias em imagens – em imagens editadas. Quando estou escrevendo um roteiro, estou fazendo a montagem na minha cabeça. No set, já fico pensando em como editar.”

Zhao chamou a atenção do público e da indústria com o segundo longa, Domando o Destino (2017). Exibido em Cannes e Toronto, o filme conta a história de um jovem cowboy que, após sofrer um acidente quase fatal, tem de abandonar os rodeios e buscar um novo propósito. Foi após assistir a Domando o Destino que a atriz e produtora Frances McDormand convidou Zhao a dirigir o filme que lhe daria o Oscar: Nomadland.

Chloé Zhao e Frances McDormand no set de “Nomadland” – Foto: Divulgação

Nomadland é baseado em um livro de não ficção no qual a escritora Jessica Bruder conta histórias de nômades americanos modernos: pessoas que, em meio à recessão, passam a viver em vans e a viajar pelo país conforme encontram trabalhos temporários. Adaptando a obra para o cinema, Zhao incluiu uma personagem fictícia, Fern, interpretada por McDormand. Mas, como em seus longas anteriores, a diretora também escalou não atores, inclusive alguns dos nômades reais retratados no livro.

Nomadland estreou no Festival de Veneza, ganhou o Leão de Ouro e deu início a uma bem-sucedida trajetória que incluiu vitórias no Globo de Ouro e no prêmio do Sindicato dos Produtores. No Oscar, tornou-se a mulher com recorde de indicações em um mesmo ano ao disputar quatro prêmios: filme, direção, roteiro adaptado e montagem. Ganhou os dois primeiros, em vitórias históricas: Nomadland foi o segundo filme de uma diretora a vencer na categoria principal, e Zhao foi a segunda mulher – e a primeira não branca – a vencer o Oscar de direção. Em seu discurso, Zhao compartilhou o verso de um poema chinês que a marcou desde a infância:

“Crescendo na China, meu pai e eu costumávamos brincar de memorizar poemas e textos clássicos chineses. Recitávamos juntos e tentávamos finalizar a frase do outro. Me lembro com muito carinho de um destes textos, chamado Three Character Classic. O primeiro verso diz: ‘人之初 性本善’ [que significa] ‘Ao nascer, as pessoas são inerentemente boas’. Essas seis letras tiveram um impacto muito grande em mim quando era criança, e continuo acreditando nelas. Às vezes o oposto parece ser verdade mas sempre encontrei bondade nas pessoas que conheci, em todos os lugares do mundo a que fui. Então este prêmio é para qualquer pessoa que tem fé e coragem para se agarrar à bondade dentro delas e à bondade dos outros, mesmo quando é muito difícil fazer isso.”

Chloé Zhao posa com o Oscar de melhor direção – Foto: A.M.P.A.S.

Apenas meses depois de subir ao palco do Oscar, Zhao voltou às telas com Eternos, seu projeto de maior escala. Com orçamento de US$ 200 milhões, Eternos é inspirado nos quadrinhos de Jack Kirby sobre uma raça de seres imortais que viveram na Terra e moldaram suas civilizações. Além da direção, Zhao também assina o roteiro em parceria com Patrick Burleigh, Ryan Firpo e Kaz Firpo.

As conversas dela com a Marvel começaram quando ela foi uma das diretoras consideradas para Viúva Negra (2021). Zhao se retirou da disputa por este trabalho (que acabou ficando com Cate Shortland), mas voltou com um pitch para Eternos que conquistou os chefes do estúdio. Em seu primeiro blockbuster, Zhao trabalhou com um elenco estrelado, que inclui Gemma Chan, Salma Hayek e Angelina Jolie. Mas ela preservou alguns dos traços que marcaram seus filmes anteriores, como o uso de iluminação natural, por exemplo. Em entrevista ao Hollywood Reporter, ela falou sobre a experiência de trabalhar na Marvel:

“Falava diariamente com umas três pessoas, que eram as que tomavam decisões importantes e que estavam a uma mensagem de distância. Então, na maior parte do tempo, senti como se estivesse com os mesmos 25 chefes de departamento que tinha ao meu lado em ‘Nomadland’. Os técnicos e artistas incríveis e as milhares de pessoas que me ajudaram a fazer esse filme realmente me protegeram de tudo. Eles sabiam como eu trabalhava melhor e criaram uma bolha para mim. Se queria voar e enlouquecer, eles me deixavam, mas se caísse, sabia que estaríam lá para me ajudar. Por isso pude brincar tanto.”

Zhao também já tem outro projeto pela frente: um novo filme sobre o vampiro Drácula que está sendo desenvolvido pela Universal Pictures. Ela vai escrever, dirigir e produzir o longa, que segundo o Hollywood Reporter será um “faroeste de ficção científica original e futurista”. “Sempre fui fascinada pelos vampiros e o conceito de ‘outro’ que eles encarnam”, afirmou a diretora, em comunicado. “Estou empolgada em reimaginar um personagem tão querido”. A produção deste novo filme ainda não começou, mas a plateia estará de olho.

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