Kirsten Schaffer: conheça a criadora do #52FilmsByWomen e do selo ReFrame

Desde 2015, uma simples hashtag tem ajudado muita gente a conhecer mais filmes dirigidos por mulheres. Trata-se do #52FilmsByWomen, uma campanha que convida espectadores do mundo inteiro a assistir um filme de diretora por semana durante um ano – totalizando, assim, 52 títulos.

Por trás do #52FilmsByWomen está a americana Kirsten Schaffer, diretora do braço de Los Angeles da Women in Film (WIF), organização que lidera outras iniciativas pela maior igualdade de gênero em Hollywood.

Saiba mais: Conheça e participe da campanha #52FilmsByWomen
Power of Inclusion: “É tempo de otimismo e de manter pressão, diz pesquisadora
Leia também: 
O que Niki Caro contou sobre Mulan no Power of Inclusion

Schaffer foi uma das convidadas do Power of Inclusion, seminário sobre inclusão no cinema realizado em outubro em Auckland, na Nova Zelândia, e promovido pela New Zealand Film Commission em parceria com a Women in Film and Television International (WIFTI). Quando a encontrei para uma entrevista nos corredores do Aotea Center, ela parecia um pouco cansada após dois dias de muitas discussões, palestras e painéis. Mas sua expressão mudou quando contei que o #52FilmsByWomen era bastante popular no Brasil.  

“De verdade?”, ela perguntou, sorrindo. “Fico tão feliz em ouvir isso!”

Segundo Schaffer, a ideia da hashtag era combater a invisibilidade das mulheres por trás das câmeras. “Quando você procura ‘cineasta’ no Google, encontra um monte de homens. Quando pergunta para as pessoas quais cineastas conhecem, a maioria só menciona homens. Então queria achar uma forma de tornar as diretoras mais conhecidas”, contou. “Pensei: vamos convidar as pessoas a se comprometerem a ver um filme por semana e a postar sobre o assunto, para dar mais visibilidade às diretoras.”

A partir da esquerda, as diretoras neozelandesas Niki Caro, Madeleine Sami e Jackie van Beek conversam com Kirsten Schaffer
em painel do evento Power Of Inclusion em Auckland – Foto: Fiona Goodall/Getty Images for New Zealand Film Commission

A campanha perdeu certa força nos Estados Unidos conforme a WIF Los Angeles passou a promover duas outras iniciativas: a WIF Help Line e o ReFrame. A Help Line é uma linha telefônica voltada a profissionais da indústria do entretenimento que tenham sido vítimas de assédio sexual. A iniciativa começou há dois anos, após o escândalo Harvey Weinstein, quando Schaffer e suas colegas de WIF começaram a ouvir inúmeros depoimentos. “Muitas mulheres não sabiam o que fazer, então criamos este telefone para ligarem e serem encaminhadas a grupos de apoio, terapeutas e advogados”, afirmou. Segundo ela, até outubro deste ano a help line tinha recebido quase 400 telefonemas. “Às vezes as pessoas só querem alguém para ouvi-las”, completou.

Já o ReFrame é um programa com diferentes frentes, encampado por artistas e líderes de empresas e sindicatos que atuam como “embaixadores”. Estes embaixadores procuram estúdios, emissoras de televisão, produtoras e outras empresas para conscientizar tomadores de decisão sobre a desigualdade de gênero e apresentar recomendações que podem levar à maior contratação de mulheres e minorias. Eles também “patrocinam” profissionais em meio de carreira, para ajudá-las a conseguir novos trabalhos, e concedem o selo ReFrame a filmes e séries que preenchem determinados critérios de representatividade em frente e por trás das câmeras.

Kirsten Schaffer posa para foto no Power of Inclusion – Crédito: Fiona Goodall/Getty Images for New Zealand Film Commission

No Power of Inclusion, Schaffer contou que a principal estratégia do ReFrame é apresentar o potencial comercial das produções realizadas e protagonizadas por mulheres.

“Não vamos até eles para culpá-los e envergonhá-los. Focamos em ajudá-los a entender a questão”, afirmou. “Estes estúdios, emissoras e produtoras já têm alguma vontade [de mudar], então o que fazemos é trabalhar com eles em busca de soluções.”

Schaffer vê razão para otimismo no que diz respeito à igualdade de gênero em Hollywood, mas acha que manter o assunto em pauta é um desafio. “Vamos ter de criar momentos significativos – aniversários, eventos, galas – para manter os jornalistas focados e a conversa continuar crescendo”, opinou.

Alguns destes marcos já existem, como o Oscar e festivais como Cannes e Veneza. Como Schaffer foi diretora de programação e diretora executiva do Outfest, evento de Los Angeles voltado principalmente a filmes com representatividade LGBTQ, perguntei sua opinião sobre um dos debates mais acalorados do momento no que diz respeito à inclusão no cinema: festivais devem ou não criar cotas para filmes dirigidos por mulheres?

“Sinceramente, acho que não é tão difícil atingir paridade de gênero em um festival”, respondeu. “As diretoras são 4% nos 100 filmes de maior bilheteria dos Estados Unidos, mas a porcentagem é bem maior do que essa nos filmes independentes. Acho que existe quantidade suficiente de bom material para os festivais caminharem em direção à igualdade. No mínimo, eles deveriam estar fazendo progresso.”

Lembrando dos tempos de programadora, Schaffer afirmou que houve ocasiões em que teve dificuldades para encontrar filmes de comunidades específicas. “Uma vez, por exemplo, nenhuma mulher negra e lésbica inscreveu filmes no festival. Então o que eu tive que fazer? Tive de buscá-las”, afirmou Schaffer. “Não é que os filmes não tinham sido feitos ou não existiam, eles apenas não tinham sido inscritos.”

“Então”, completou ela, “cabia a mim procurar mais.”


Luísa Pécora é jornalista e criadora do Mulher no Cinema. Ela viajou para Auckland e participou do seminário Power of Inclusion a convite da Tourism New Zealand.

Foto do topo: Fiona Goodall/Getty Images for New Zealand Film Commission

Deixe um comentário

Top