Documentário sobre Alice Guy-Blaché, 1ª cineasta da história, chega ao streaming

O aguardado documentário sobre Alice Guy-Blaché, pioneira diretora que fez mais de mil filmes entre 1896 e 1920, chegou ao streaming do Telecine. Dirigido por Pamela B. Green, Alice Guy-Blaché: A História Não Contada da Primeira Cineasta do Mundo recupera a trajetória da francesa que foi uma das primeiras pessoas a perceber o potencial narrativo do cinema, mas passou décadas sendo ignorada por críticos e pesquisadores.

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A estreia do documentário complementa a programação da mostra Pioneiras do Cinema, escolhida pelo Telecine para abrir o Festival 125 Anos de Cinema, que começou em dezembro e segue em cartaz até meados do ano. A mostra inclui 16 filmes de importantes cineastas, sete deles dirigidos pela própria Guy-Blaché.

Nascida na França em 1873, Guy-Blaché trabalhava como secretária na companhia Gaumont quando, em 1895, foi a uma das históricas exibições dos irmãos Auguste e Louis Lumière que depois seriam consideradas o marco inicial do cinema. Os filmes daquele primeiro momento eram breves registros de cenas da vida – pessoas saindo de uma fábrica, um trem chegando à estação -, mas Guy-Blaché, que gostava de literatura e teatro, achou que a nova invenção poderia ser usada para contar histórias.

Ela perguntou ao chefe, Léon Gaumont, se poderia usar equipamentos da companhia para rodar algumas cenas. Ele concordou, com a condição de que não atrapalhasse o trabalho como secretária. Foi assim que, em 1896, Guy-Blaché filmou A Fada do Repolho, o primeiro filme dirigido por uma mulher e um dos primeiros filmes de ficção dirigidos por qualquer pessoa. Foi o início de uma carreira brilhante na França e nos Estados Unidos, durante a qual ela fundou seu próprio estúdio e dirigiu curtas e longas dos mais variados gêneros.

Por trás de Alice Guy-Blaché

O interesse de Pamela B. Green pela trajetória de Alice Guy-Blaché começou por causa do documentário televisivo Reel Models: The First Women of Film (2000), dirigido por Susan Koch. Ao ver o filme e ouvir a atriz Shirley McLaine falar sobre a primeira diretora da história, Green pensou o que muita gente tem pensado nos últimos anos: “Como é possível que eu nunca tenha ouvido falar sobre esta mulher?” 

Pamela B. Green dirige e Jodie Foster narra o documentário sobre Alice Guy-Blaché – Foto: Getty Images

Até então, Green só tinha feito um curta-metragem como diretora (Compact Short, de 2009) e sua experiência era em outra área do cinema: ela é uma das donas da Pic Agency, empresa especializada em design para obras audiovisuais – e não por acaso, Alice Guy-Blaché: A História Não Contada da Primeira Cineasta do Mundo utiliza muitas animações e recursos gráficos.

No total, foram oito anos de dedicação ao documentário. Em entrevista por telefone ao Mulher no Cinema, realizada no ano passado, Green definiu o processo de pesquisa como uma “montanha-russa emocional”. “Tinha muita paixão, mas poucas esperanças de que iria encontrar qualquer coisa”, afirmou.


“O mais emocionante foi encontrar os descendentes, as pessoas que a chamavam Alice Guy-Blaché de ‘tia’ e guardavam fotos e cartas. Isso a humanizou para mim. Todas as descobertas eram novas peças que a colocavam de volta à história.”
– Pamela B. Green
, diretora do documentário sobre Alice Guy-Blaché


Um dos primeiros achados foi uma entrevista concedida pela filha de Guy-Blaché, Simone, em 1985, e recuperada por Green após uma peregrinação por laboratórios que envolveu até mesmo colocar a fita Ampex em um forno. Mas descobertas preciosas continuaram sendo feitas durante todo processo: pouco antes de o documentário estrear no Festival de Cannes de 2018, Green teve acesso a imagens inéditas de Guy-Blaché no set de A Vida de Cristo (1906), um ambicioso filme de 33 minutos com dezenas de figurantes e cenários.

Green também se conectou a muita gente: “O mais emocionante foi encontrar os descendentes, as pessoas que a chamavam de ‘tia’ e guardavam fotos e cartas. Isso humanizou a Alice para mim”, disse. “Todas as descobertas eram novas peças que a colocavam de volta à história.”

Alice Guy-Blaché no set de “A Vida de Cristo”, filme de 1906 – Foto: Divulgação

Além do material de arquivo, o documentário também conta com a narração da atriz e diretora Jodie Foster e inclui dezenas de entrevistas com artistas contemporâneos – de Ava DuVernay a Michel Hazanavicius, de Geena Davis a Peter Bogdanovich – que fazem comentários sobre a obra de Guy-Blaché. A ideia era criar conexões entre passado e presente para chamar a atenção do público jovem: “Alice foi diretora, roteirista, produtora, chefe de estúdio, trabalhou com som e edição, fez curtas e longas. Queria [que o documentário tivesse] o máximo possível de pessoas que fizeram coisas que ela também fez e, assim, criar essa conexão”, explicou.

Conhecendo as pioneiras

Além do documentário sobre Alice Guy-Blaché, o catálogo do Telecine também inclui sete filmes da própria diretora: O Amor Maior de um Homem (1911); Algie, O Mineiro (1912); A Garota na Poltrona (1912); Americanização (1912); O Cair das Folhas (1912); Casamento Às Pressas (1913) e A Órfã do Oceano (1916).

A mostra Pioneiras do Cinema também exibe trabalhos de duas outras cineastas francesas: Germaine Dulac (1882-1942), figura fundamental do cinema de vanguarda nos anos 1920, e Marie-Louise Iribe (1894-1934), também atriz e cofundadora da produtora Les Artistes Réunis. 

Por sua vez, os Estados Unidos marcam presença com três artistas importantes: Lois Weber (1879-1939), a primeira americana a dirigir e uma das cineastas mais bem-sucedidas dos anos 1920 (inclusive considerando os homens); Mabel Normand (1892-1930), nome central da comédia silenciosa em frente e por trás das câmeras; e Mary Ellen Bute (1906-1983), uma das pioneiras do cinema experimental. Os 30 primeiros dias de acesso ao streaming do Telecine são grátis para novos assinantes. Faça seu cadastro aqui.


* Este texto foi produzido pelo Mulher no Cinema e é patrocinado pelo Telecine

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