“Clássica” relança obras-primas nos cinemas brasileiros

Entre as estreias da semana no Brasil está um filme originalmente lançado em 1957: “O Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman. Trata-se do primeiro título do projeto Clássica, que vai relançar obras-primas do cinema – em cópias restauradas – nas cidade de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Salvador, Porto Alegre, João Pessoa e Santos.

Será um filme por mês: além de “O Sétimo Selo”, o Clássica também terá “Morangos Silvestres”, de Bergman; “A Doce Vida” e “8½”, de Federico Fellini; “Mamma Roma”, de Pier Paolo Pasolini; e “Nosfesratu – O Vampiro da Noite” e “Fitzcarraldo”, de Werner Herzog.

Nenhuma diretora entrou na programação da primeira temporada, mas o projeto é uma boa oportunidade para ver, na tela grande, atrizes como Anita Ekberg, Claudia Cardinale, Isabelle Adjani e Anna Magnani, a estrela de “Mamma Roma”.

O Clássica é uma parceria entre as distribuidoras brasileiras FJ Cines e Zeta Filmes. Esta última, criada em 1998 e com sede na capital mineira, tem duas mulheres no comando, as irmãs Francesca e Daniella Azzi. Além de distribuir filmes, a Zeta realiza mostras, exposições e festivais como o Indie, dedicado ao cinema independente, que começou em 2001 em Belo Horizonte e também acontece em São Paulo.

Mulher no Cinema aproveitou a estreia do Clássica e conversou com Francesca Azzi para saber mais sobre o projeto e a trajetória da Zeta Filmes. Leia a entrevista: 

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Como surgiu o Clássica?
Há alguns anos estamos distribuindo filmes contemporâneos, mas não estávamos no cinema clássico. A FJ Cines nos procurou para uma parceria e criamos o projeto. Como são filmes antológicos, de diretores icônicos, queríamos relançar no cinema, em cartaz mesmo, que é diferente de passar em festivais ou centros culturais.

Como foi a seleção de filmes?
Fomos um pouco pela preferência pessoal, junto com o pessoal da FJ, que já tinha trazido mais de 50 filmes do Bergman para o Brasil. Gostaríamos de rever vários filmes do Bergman, mas para começar pegamos “O Sétimo Selo” e “Morangos Silvestres”, que são bem marcantes na obra dele. Também estávamos procurando filmes restaurados, com cópias de qualidade. Sabíamos que o irmão do Herzog estava cuidando do restauro, e que “8½” do [Federico] Fellini também tinha acabado de ser restaurado. Então foi assim, pensando bastante na questão da restauração. Acabamos ficando no cinema de autor. Não sei se vamos manter esta linha, podemos ir para vários lados.

Então pensam em fazer novas temporadas do Clássica?
Sim. Não há motivo para não fazer, só se não for comercialmente viável. Mas a ideia é que possa prosseguir. Criamos como um selo, Clássica, para que tivesse mais impacto e estimulasse as pessoas a criar o hábito de ver um clássico. A ideia é que atraia o público jovem, que não viu Bergman e Fellini no cinema. E também os cinéfilos que querem rever os filmes, que estão com excelente qualidade de projeção.

Existe o plano de exibir algum filme dirigido por mulher?
Já fizemos programas e exposições que incluíam mulheres cineastas. Para o Clássica ainda não chegamos a nenhum nome. Mas talvez a gente ainda chegue. Talvez [com filmes lançados] nos anos 1970, quando há diretoras importantes. Sempre temos vontade de trazer o olhar da mulher. É uma preocupação, porque as diretoras estão em universo muito duro. São poucas.

Passando para o Indie, o que você pode adiantar sobre a edição deste ano [que será em setembro em Belo Horizonte e São Paulo]?
A gente ainda não divulgou nada, mas vamos ter uma retrospectiva de cineasta mulher. Mais para frente vamos contar qual.

Você acha que o Indie ajudou a criar público para o cinema independente em Belo Horizonte?
Acho que houve formação de público, sim. O primeiro Indie foi em 2001, então é toda uma geração – aquela meninada que tinha 18 anos e agora está com 30 e poucos sempre volta. Muita gente diz que o festival foi referência, que conheceu o cinema independente por causa do Indie. E o público também foi mudando. A cada ano vêm novas pessoas. O povo que está com 30 anos reclama que não pode mais ficar a tarde inteira no cinema [risos]

De 2001 para cá, o interesse por cinema independente cresceu?
Cresceu, e isso apesar da crise que os cinemas de rua estão vivendo em Belo Horizonte. O Usina, que era a sede do Indie por exemplo, não conseguiu se manter financeiramente. Vários outros fecharam, porque infelizmente não basta que as pessoas queiram [ver cinema independente] para mudar o cenário. Há uma situação mundial do cinema não conseguir se manter, não ter recursos. É muito caro e nem sempre as leis de incentivo conseguem dar conta. E também tem a ver com a economia da cidade, com a aposta da prefeitura. Tem ano que o governo é muito ruim e não dá continuidade.

Além disso, os cinemas culturais costumam ser no centro, e o público se afastou muito do centro. Há toda uma geopolítica da cidade que prejudica. Sem contar que o cinema ainda é muito caro. Mas tenho um certo otimismo. Acho que está voltando a vontade de ir ao cinema de rua, de sair de casa, de conviver com outras pessoas. Mesmo com Blu-ray e download. Acho que tem nicho para tudo.

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