Olivia de Havilland, atriz de “E o Vento Levou” que enfrentou estúdios, morre aos 104 anos

A atriz Olivia de Havilland, uma das grandes estrelas da chamada era de ouro de Hollywood e que também impactou gerações ao questionar o poder dos estúdios, morreu neste sábado (25), aos 104 anos. De acordo com sua agente, Lisa Golderg, ela morreu de causas naturais em Paris, onde vivia. 

Duas vezes ganhadora do Oscar, De Havilland é lembrada por papéis em filmes como E o Vento Levou… (1939), A Porta de Ouro (1941), Só Resta Uma Lágrima (1946) e Tarde Demais (1949). 

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Filha de pais britânicos, De Havilland nasceu em Tóquio em 1916 e mudou-se ainda criança para a Califórnia, nos Estados Unidos. Sua irmã mais nova também se tornou atriz, usando o nome artístico de Joan Fontaine – e a notória rivalidade das duas durou até a morte de Fontaine, em 2013.

Descoberta no teatro, aos 18 anos De Havilland assinou um contrato com a Warner Bros. e em 1935 estreou no cinema com Sonho de Uma Noite de Verão. Durante os sete anos de contrato com o estúdio, ela fez uma série de filmes com o ator Errol Flynn, incluindo A Carga de Cavalaria Ligeira (1936) e As Aventuras de Robin Hood (1938). O sucesso destes longas, porém, não assegurou melhores oportunidades para a atriz, que foi suspensa várias vezes pela Warner por recusar trabalhos.

“Queria interpretar papéis complexos, mas Jack Warner [então dono do estúdio] me via como a mocinha. Estava realmente ansiosa para interpretar seres humanos mais desenvolvidos. Jack nunca entendeu isso e me dava personagens que não tinham personalidade ou qualidade nenhuma.”

Hattie McDaniel, Olivia de Havilland e Vivien Leigh em "E o Vento Levou"
Hattie McDaniel, Olivia de Havilland e Vivien Leigh em “E o Vento Levou”

Quando era “emprestada” a outros estúdios, a atriz se sentia mais realizada. Foi justamente o caso de E o Vento Levou…, no qual interpretou Melanie Hamilton, a cunhada de Scarlett O’Hara, contraponto delicado para o furacão da protagonista. O filme rendeu a De Havilland uma indicação ao Oscar, que perdeu para Hattie McDaniel, sua colega de elenco e a primeira atriz negra a ganhar a estatueta em toda a história.

A segunda indicação ao Oscar veio por A Porta de Ouro (1941), outro trabalho que De Havilland conseguiu graças ao empréstimo entre estúdios. Em seu primeiro papel principal, De Havilland perdeu o prêmio para a irmã, que concorria por Suspeita (1941).

Quando o contrato com a Warner finalmente expirou, a artista estava pronta para mudar de ares, mas o estúdio afirmou que ela devia seis meses de trabalho pelo tempo que havia sido suspensa. De Havilland, por sua vez, argumentou na justiça que o contrato se referia a sete anos corridos, e não apenas aos dias em que ela tinha de fato trabalhado. Em 1944, a justiça ficou do lado da atriz, numa decisão legal que está entre as mais importantes da história de Hollywood. A vitória aumentou o poder dos artistas quanto a suas próprias carreiras e representou um forte golpe para o chamado studio system, o período de maior poder dos estúdios, também enfraquecido por outras decisões legais, pelo fortalecimento dos sindicatos e pelo surgimento da televisão.

De Havilland ganhou muito respeito dos colegas, continuou trabalhando e finalmente ganhou o Oscar por Só Resta Uma Lágrima (1946), repetindo o feito pouco tempo depois com Tarde Demais (1949). Além dela, só outras 13 mulheres venceram mais de uma vez na categoria de melhor atriz.

Olivia de Havilland em 1935 – Foto: Hulton Archive/Getty Images

Na década de 1950 De Havilland trocou Hollywood pela França, e nos anos 1980 abandonou de vez a indústria do entretenimento. Seu último trabalho foi o telefilme The Woman He Love, exibido em 1988.

Dois acontecimentos trouxeram De Havilland de volta aos holofotes muitos anos depois de sua aposentadoria. Primeiro, o centenário comemorado em 2016. Depois, um novo processo judicial movido pela atriz, desta vez contra a emissora FX e o produtor Ryan Murphy, por causa da forma como foi retratada na série Feud: Bette and Joan, sobre a rivalidade entre as atrizes Bette Davis e Joan Crawford.

De Havilland, que foi interpretada por Catherine Zeta-Jones, afirmou que o programa não obteve autorização para retratá-la e a mostrou como “fofoqueira, hipócrita e vulgar”. A ação foi movida em 2017 e chegou a avançar na justiça de Los Angeles, mas um segundo juiz aceitou o apelo de Murphy e da FX, julgando que os realizadores estavam protegidos pela lei de liberdade de expressão. De Havilland levou o caso para a Suprema Corte Americana, mas o tribunal se negou a rever o caso.

Em 2018, quando o jornal Los Angeles Times entrevistou De Havilland e perguntou o que a motivava a enfrentar os estúdios (antes a Warner, agora a Fox) ela respondeu: “É natural que eu enfrente estas instituições porque elas estão cometendo erros”. Sobre a decisão de apelar à Suprema Corte, ela disse: “É essencial não desistir das batalhas que nos propomos a fazer.”

* O texto tem informações da Variety, do San Francisco Chronicle e do Los Angeles Times. A foto do topo é de 2015 e foi feita por Andy Gotts para a Entertainment Weekly.

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