Lina Wertmüller é segunda diretora a receber Oscar honorário

A italiana Lina Wertmüller, primeira mulher a concorrer ao Oscar de direção em 1977, finalmente levou uma estatueta para casa. A cineasta de 91 anos recebeu neste domingo (27) o Oscar honorário, que reconhece “uma obra de distinção extraordinária e contribuições excepcionais às artes e ciências cinematográficas”.

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Wertmüller foi a segunda diretora da história a ganhar o Oscar honorário, depois de Agnès Varda (1928-2019) em 2017 (assista ao discurso de Varda na ocasião). Dona de uma obra extensa, irreverente e marcada por questões políticas e sociais, a italiana tornou-se a primeira mulher a disputar o Oscar de direção com o ótimo Pasqualino Sete Belezas, perdendo a estatueta para John G. Avildsen, de Rocky: Um Lutador.

Ao receber o troféu neste domingo, a diretora sugeriu que ele mudasse de nome. “Por que Oscar? Vamos chamá-lo por um nome de mulher. Vamos chamá-lo de Anna”, brincou Wertmüller, que em seguida dedicou o Anna ao marido, Enrico Job, e à filha, Maria Zulima.

Antes do discurso, Wertmüller recebeu um tributo da atriz italiana Sophia Loren, que trabalhou com ela em filmes como Amor e Ciúme (1978) e A Pequena Órfã (2001). “Fiz meu primeiro filme com Lina há mais de 40 anos. Mas os adjetivos fluem como se fosse ontem: apaixonada, brincalhona, honesta, brilhante.”

Greta Gerwig e Jane Campion apresentando o Oscar honorário para Lina Wertmüller – Foto: Phil McCarten / ©A.M.P.A.S.

Wertmüller também recebeu tributos de duas das quatro mulheres indicadas ao Oscar de direção depois dela: a americana Greta Gerwig e a neozelandesa Jane Campion. Gerwig falou sobre como “devorou” os filmes da homenageada: “O cinema dela é pessoal, específico e idiossincrático, mas também é mundial no sentido mais verdadeiro. É épico e acontece num palco vasto que se traduz para espectadores ao redor do mundo.”

Campion falou sobre como admirava o trabalho de Wertmüller ainda como estudante de cinema na Austrália, e destacou o péssimo histórico do Oscar com as mulheres: “Me pediram para falar da história da mulher na categoria de direção”, disse Campion. “É uma história bem curta. É um haiku, na verdade.”

Dos 184 prêmios honorários entregues pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas entre 1929 e 2019, apenas 24 foram para mulheres. São elas: Shirley Temple, Deanna Durbin, Judy Garland, Margaret O’Brien, Peggy Ann Garner, Greta Garbo, Hayley Mills, Orna White, Lillian Gish, Mary Pickford, Margaret Booth, Barbara Stanwyck, Sophia Loren, Myrna Loy, Deborah Kerr, Lauren Bacall, Angela Lansbury, Maureen O’Hara, Gena Rowlands, Anne V. CoatesAgnès VardaCicely Tyson e, agora, Lina Wertmüller e Geena Davis, que também ganhou o prêmio neste domingo.

A atriz recebeu o Jean Hersholt Humanitarian Award, prêmio que reconhece o trabalho humanitário dos artistas, por causa do Instituto Geena Davis, uma das mais importantes organizações que trabalham pela igualdade de gênero no cinema. Seu discurso também falou sobre o tema:

Thelma e Louise me fez perceber como as mulheres têm poucas oportunidades de sair de um filme empolgadas e empoderadas pelas personagens femininas”, afirmou, antes de fazer um apelo à plateia: “Seja qual for o seu atual projeto, aumente o número de personagens mulheres.”


Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema

Com informações do Hollywood Reporter e da A.M.P.A.S. Foto do topo: Matt Petit / ©A.M.P.A.S.

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