Amy Schumer tenta, mas não salva roteiro fraco de “Sexy por Acidente”

Tem sido surpreendentemente difícil a passagem de Amy Schumer da televisão para o cinema. A atriz e comediante parecia ter tudo para deslanchar na telona embalada pelo sucesso de seu programa de esquetes, mas seus filmes tem ficado muito abaixo da expectativa. Foi assim com Descompensada (2015), depois com Viagem das Loucas (2016) e agora com Sexy por Acidente, que chegou às salas do Brasil na quinta-feira (28).

Schumer interpreta Renee Bennett, uma mulher (um pouco) fora dos padrões de beleza vigentes que sonha em ser “indiscutivelmente bonita” para aproveitar o que a vida tem a oferecer. Funcionária de uma empresa de cosméticos, ela não ousa se candidatar à vaga de recepcionista por não ter o visual de quem ocupa o cargo – em geral, candidatas a modelo.

Tudo muda quando, durante uma aula de spinning, Renee leva um tombo da bicicleta, bate a cabeça e, ao se olhar no espelho, passa a ver a mulher linda e magra que sempre quis ser. Agora um poço de confiança, ela consegue o emprego que queria e ainda descola um namorado gente boa, mas a mudança é apenas na cabeça: ao contrário do que pensa, Renee continua sendo a mesmíssima pessoa que era antes de sofrer a queda.

Insira um segundo pretendente bonitão (Tom Hopper), uma chefe insegura com a própria voz (Michelle Williams), uma cameo de Naomi Campbell e o indiscreto merchandising de marcas como Soul Cycle e Target e você terá a base de Sexy Por Acidente, um filme que, se arranca algumas (bem poucas) risadas, é mesmo pelo esforço de Schumer.

Convenhamos que o histórico da dupla de realizadores Abby Kohn e Marc Silverstein não é dos melhores: estreando na direção, eles assinaram o roteiro de filmes como Nunca Fui Beijada (1999), Ele Não Está Tão a Fim de Você (2009) e Como Ser Solteira (2016). Em Sexy Por Acidente, não têm as sacadas do programa de Schumer para comentar estereótipos e padrões de beleza, como no esquete que abordou o prazo de validade dado às mulheres de Hollywood ou na breve paródia de 12 Homens e Uma Sentença na qual um júri deve decidir se a comediante é “gostosa o suficiente” para aparecer na TV.

Nem mesmo a mensagem de autoestima, aceitação e confiança que é a obsessão do filme é bem formulada. Kohn e Silverstein falam pouquíssimo sobre o peso da indústria da beleza e da própria mídia nas questões de Renee, caem em vários dos estereótipos que se propõem a combater e escalam Schumer para proferir um discurso supostamente empoderador sobre beleza real que de tão banal lembra um misto de palestra de autoajuda com comercial de televisão.

Um filme como Sexy por Acidente depende do fator identificação: será bem-sucedido se a plateia se reconhecer na protagonista. Em tese, parece tarefa fácil, mas os realizadores carregam tanto nas tintas que fazem o filme beirar o ridículo – e não do jeito que gostariam. Afinal, como se identificar com uma personagem que quase cai da cadeira ao descobrir que uma mulher bonita e magra também pode levar fora do namorado?

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Este filme passa no teste de Bechdel-Wallace. Clique para saber mais.“Sexy Por Acidente”
[I Feel Pretty, EUA, 2018]
Direção: Abby Kohn, Marc Silverstein
Elenco: Amy Schumer, Michelle Williams, Busy Philipps, Aidy Bryant.
Duração: 110 minutos


Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema.

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