Jennifer Aniston: “Não estou grávida, estou farta”

Cansada dos rumores de gravidez e dos comentários sobre sua aparência, Jennifer Aniston publicou uma carta criticando sites e revistas sobre celebridades pelo modo como retratam as mulheres.

“Não estou grávida. Estou farta. Farta do escrutínio feito quase por esporte e da reprovação do corpo dos outros que acontece diariamente sob o disfarce de ‘jornalismo'”, escreveu a atriz.

Boatos de gravidez acompanham Aniston pelo menos desde o casamento com Brad Pitt, de quem se divorciou em 2005. Também são constantes as reportagens sobre supostos problemas da atriz para engravidar e/ou processos de adoção que teria iniciado.

“Sim, talvez eu me torne mãe algum dia […] Mas não estou em busca da maternidade porque me sinto incompleta de alguma forma, como nossa cultura de jornalismo de celebridades nos leva a acreditar”, escreveu. “Não precisamos ser casadas ou mães para sermos completas. Determinamos nosso próprio ‘felizes para sempre.'”


Leia a carta na íntegra e em português:

“Deixe-me começar dizendo que nunca respondi a boatos. Não gosto de dar força ao negócio da mentira, mas queria participar de uma conversa maior que já começou e precisa continuar. Como não estou nas redes sociais, decidi colocar meus pensamentos aqui.

Para constar: não estou grávida. Estou farta. Estou farta desse escrutínio feito quase por esporte e dessa reprovação do corpo dos outros que acontece diariamente sob o disfarce de ‘jornalismo’, ‘Primeira Emenda’ e ‘notícias de celebridade’.

Todos os dias meu marido e eu somos assediados em frente à nossa casa por dúzias de fotógrafos agressivos que farão qualquer coisa para obter qualquer tipo de fotografia, mesmo que isso signifique nos colocar em perigo, ou algum pedestre que tenha o azar de estar por ali. Deixando de lado a questão da segurança pública, quero focar no contexto, no que esse insano ritual dos tabloides representa para todos nós.

Se sou algum tipo de símbolo para alguém, então sou um exemplo das lentes com as quais nós, como sociedade, enxergamos nossas mães, filhas, irmãs, mulheres, amigas e colegas. A objetificação e escrutínio ao qual submetemos as mulheres são absurdos e perturbadores. O modo como sou retratada pela mídia é apenas um reflexo de como vemos e representamos as mulheres em geral, todas medidas por um padrão de beleza torto. Às vezes os padrões culturais precisam de uma perspectiva diferente, para que possamos vê-los pelo que realmente são – uma aceitação coletiva…um acordo inconsciente. Estamos no controle do nosso acordo. Garotas de todos os lugares estão absorvendo nosso acordo, de forma passiva ou não. E começa cedo. A mensagem de que meninas não são bonitas se não forem incrivelmente magras, que não são dignas de atenção se não se parecem com modelos ou atrizes na capa de uma revista é algo que todos nós estamos comprando voluntariamente. Esse condicionamento é algo que as meninas carregam com elas conforme se tornam mulheres. Usamos o ‘jornalismo’ de celebridades para perpetuar essa visão que desumaniza as mulheres, que foca somente na aparência física, e que os tabloides transformam em um campeonato de especulação. Ela está grávida? Está comendo demais? Deixou de se cuidar? Seu casamento está em crise porque a câmera detectou uma ‘imperfeição’ física?

Costumava dizer a mim mesma que os tabloides eram como quadrinhos, algo para não levar a sério, apenas uma novela para as pessoas seguirem quando precisam de distração. Mas não posso mais dizer isso porque, na realidade, a perseguição e objetificação que experimentei de perto – e que acontece há décadas – reflete o modo deformado com o qual calculamos o valor de uma mulher.

O último mês em particular me mostrou o quanto calculamos o valor de uma mulher de acordo com seu estado civil e se é mãe ou não. A quantidade de recursos sendo gasta pela imprensa para tentar descobrir se estou ou não grávida (pela bilésima vez…mas quem está contando) aponta para a perpétua noção de que as mulheres são de alguma forma incompletas, infelizes ou não são bem-sucedidas se não são casadas e não têm filhos. Durante este último tedioso ciclo de notícias sobre a minha vida pessoal houve tiroteios, incêndios, decisões importantes da Suprema Corte e uma campanha presidencial, além de várias outras questões mais dignas de notícia às quais os ‘jornalistas’ poderiam dedicar seus recursos.

É aqui que quero dizer: somos completas com ou sem um parceiro, com ou sem um filho. Somos nós quem decidimos, por nós mesmas, o que é bonito no que diz respeito aos nossos corpos. Esta decisão é nossa e apenas nossa. Vamos tomar essa decisão por nós mesmas e pelas jovens mulheres que nos veem como exemplo. Vamos tomar essa decisão de forma consciente, sem o barulho dos tabloides. Não precisamos ser casadas ou mães para sermos completas. Determinamos nosso próprio ‘felizes para sempre’.

Estou cansada de ser parte desta narrativa. Sim, talvez eu me torne mãe algum dia. E já que estou abrindo tudo aqui, se isso acontecer, serei a primeira a contar a vocês. Mas não estou em busca da maternidade porque me sinto incompleta de alguma forma, como nossa cultura de jornalismo de celebridades nos leva a acreditar. Fico ressentida de que queiram fazer com que eu me sinta ‘menor’ porque meu corpo está mudando e/ou porque comi um hambúrguer no almoço e fui fotografada de um ângulo estranho, e logo considerada das duas uma: ‘grávida’ ou ‘gorda’. Sem contar o doloroso constrangimento de receber parabéns de amigos, colegas de trabalho e estranhos por causa de uma gravidez fictícia (uma dúzia de vezes em um mesmo dia).

Anos de experiência me ensinaram que o modo de agir dos tabloides não vai mudar, ao menos não em breve, por mais perigoso que seja. O que pode mudar é nossa consciência e reação às tóxicas mensagens escondidas em reportagens aparentemente inofensivas que são servidas como verdade e formam nossas ideias sobre quem somos. Somos nós quem decidimos o quanto vamos acreditar no que está sendo servido, e quem sabe um dia os tabloides serão forçados a ver o mundo com lentes diferentes e mais humanas, porque os consumidores simplesmente pararam de comprar suas mentiras.”

Via Huffington Post

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