J-Law: “Por que ganho menos do que meus co-stars?”

Jennifer Lawrence aceitou o convite para escrever um artigo na newsletter Lenny, criada por Lena Dunham – e aproveitou o espaço para criticar duramente a diferença de salários entre homens e mulheres em Hollywood. No ano passado, um ataque de hackers contra a Sony Pictures mostrou que a atriz ganhou menos que Christian Bale, Bradley Cooper e Jeremy Renner em “Trapaça”, apesar de ser uma das estrelas mais requisitadas da indústria.

Vale lembrar, também, que Lawrence é a atriz mais bem paga do mundo, segundo a revista “Forbes”. Porém, no ano passado ganhou US$ 28 milhões a menos do que o ator mais bem pago do mundo, Robert Downey Jr.

Leia o texto de J-Law na íntegra, em português:

“Por que ganho menos do que meus co-stars?”

“Quando Lena me falou sobre a [newsletter] Lenny, fiquei animada. Animada em falar com Lena, que é genial, e de começar a pensar sobre o que poderia reclamar (ela não me pediu isso, mas é o que vou fazer). Quando o assunto é feminismo, fico mais ou menos quieta. Não gosto de entrar em conversas que estão virando tendência. Sou daquelas que não fez nada sobre o desafio do balde de gelo – que salvou vidas – porque começou a parecer mais uma moda do que uma causa. Devia ter feito um cheque, mas esqueci, ok? Não sou perfeita. Mas com muitas conversas vêm mudanças, então quero ser honesta, aberta e – dedos cruzados – não enfurecer ninguém.

É difícil falar sobre minha experiência como uma mulher que trabalha porque posso dizer, com segurança, que meus problemas não criam identificação. Quando o ataque de hackers contra a Sony aconteceu e descobri o quão menos eu estava recebendo em relação às pessoas sortudas que têm pênis, não fiquei brava com a Sony. Fiquei brava comigo. Falhei como negociadora porque desisti muito cedo. Não queria ficar brigando por milhões de dólares dos quais, sinceramente, não preciso, graças a duas franquias. (Disse que meus problemas não criam identificação, não me odeiem).

Mas, se vou ser honesta comigo mesmo, estaria mentindo se não dissesse que a vontade de que gostassem de mim influenciou minha decisão de fechar negócio sem uma briga de verdade. Não queria parecer ‘difícil’ ou ‘mimada’. Na época, parecia uma ideia aceitável, até que vi os pagamentos na internet e percebi que todos os homens com quem estava trabalhando não tinham que se preocupar se estavam sendo ‘difíceis’ ou ‘mimados’. Pode ter a ver com eu ser jovem. Pode ter a ver com minha personalidade. Tenho certeza de que as duas coisas interferem. Mas é um elemento da minha personalidade com o qual tenho lutado há anos. Olhando as estatísticas, não acho que seja a única mulher com esse problema. Somos condicionadas socialmente a nos comportar assim? Só podemos votar há uns…90 anos? Estou perguntando de verdade – meu telefone está no balcão e eu no sofá, então usar calculadora está fora de questão. Poderia se tratar de um hábito ainda persistente de tentar expressar nossa opinião de uma determinada maneira, que não ‘ofenda’ ou ‘assuste’ os homens?

Há algumas semanas, no trabalho, disse o que pensava e dei minha opinião de um jeito claro e sem rodeios; sem ser agressiva, apenas direta. O homem com quem eu estava trabalhando (na verdade, ele estava trabalhando para mim), disse: ‘Opa! Estamos no mesmo time!’, como se eu estivesse gritando com ele. Fiquei tão chocada porque nada do que disse foi pessoal, ofensivo ou, pra ser sincera, errado. Todos os dias vejo os homens dando suas opiniões, e quando eu dou a minha do mesmo jeito, é como se eu tivesse sido ofensiva.

Superei essa coisa de ficar tentando achar um jeito ‘adorável’ de expressar minha opinião e ainda gostarem de mim! Foda-se isso. Acho que nunca trabalhei para um homem que ficasse pensando sobre qual ângulo deveria usar para ter sua voz ouvida. Ela simplesmente é ouvida. Jeremy Renner, Christian Bale e Bradley Cooper lutaram e conseguiram negociar acordos poderosos para eles. Tenho certeza de que foram cumprimentados por serem fortes e estratégicos, enquanto eu estava ocupada me preocupando em não ser vista como criança mal-comportada e deixando de ganhar a parte que eu merecia. De novo, talvez isso não tenha NADA a ver com a minha vagina. Mas eu não estava completamente errada quando um outro email da Sony que vazou revelou um produtor [Scott Rudin] chamando outra atriz [Angelina Jolie] de “criança mimada” por causa de uma negociação. Por alguma razão, não consigo visualizar alguém dizendo isso sobre um homem.”

Jennifer Lawrence, na newsletter Lenny

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