Crítica: “Perdidos em Paris”, de Fiona Gordon e Dominique Abel

Uma bibliotecária atrapalhada, um mendigo apaixonado e uma velhinha foragida. São estes os protagonistas de Perdidos em Paris, coprodução de França e Bélgica que está em cartaz nos cinemas brasileiros após passar pelo Festival Varilux.

Trata-se do quarto longa-metragem de Fiona Gordon e Dominique Abel, mas o primeiro em que a dupla não divide a direção com Bruno Romy. Casados na vida real, os dois se conheceram nos anos 1980 na capital francesa (ele é belga, ela é australiana naturalizada canadense) e desde então dirigem e atuam juntos, muitas vezes emprestando seus próprios nomes aos personagens. É o caso de Perdidos em Paris, em que Fiona é a bibliotecária atrapalhada e Dom, o mendigo apaixonado.

A história começa quando, em um gelado vilarejo do Canadá, Fiona recebe uma carta da tia, Martha (Emmanuelle Riva), que vive sozinha em Paris e, aos 88 anos, pede ajuda para não ser levada a um asilo. Diante do apelo, e com um sonho antigo de visitar a cidade, Fiona decide fazer a mala – e não apenas qualquer mala, mas uma enorme mochila esportiva vermelha, enfeitada com uma bandeira canadense. Além de dizer tudo o que precisa ser dito sobre a personagem, a mala tem papel fundamental na trama, pois vai parar nas mãos de Dom, criando uma conexão entre ele e Fiona. Enquanto isso, Martha foge de seu apartamento e, sem saber da chegada da sobrinha, perambula pelas mesmas ruas que ela.

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Perdidos em Paris é basicamente uma sequência de encontros e principalmente desencontros entre três personagens que têm em comum uma excentricidade fofa, uma espécie de desajuste inocente em relação às outras pessoas e ao estado das coisas. Como os protagonistas, também o próprio filme parece pertencer a uma outra época: a comédia de Fiona Gordon e Dominique Abel bebe do cinema mudo e das chamadas slapstick comedies, criando uma sucessão de gags baseadas em humor físico. Assim, posar para fotos em uma ponte parisiense termina em tombo no rio Sena, a linha de pesca se confunde com a coleira de um cachorro, o chinelo voa para longe durante um número de dança e a escada balança mas não cai tal qual em um filme de Buster Keaton (1895-1966) ou Charlie Chaplin (1889-1977).

Se algumas gags parecem bobinhas ou longas demais, outras são realmente engraçadas e até bonitas, funcionando quase como curtas-metragens ou videoclipes. É especialmente boa a cena em que Martha relembra um simpático número de dança com um ex-amante (interpretado por Pierre Richard), enquanto a câmera enquadra os pés do casal em close-up. É uma doce despedida para Emmanuelle Riva, grande atriz francesa revelada em Hiroshima Meu Amor (1959), que morreu em janeiro. Em um de seus últimos trabalhos no cinema, ela eleva o filme sempre que aparece.

Veja o trailer de Perdidos em Paris:


Este filme passa no teste de Bechdel-Wallace. Clique para saber mais.“Perdidos em Paris” – 
[Paris pieds nus, França/Bélgica, 2016]
Direção: Fiona Gordon e Dominique Abel
Elenco: Fiona Gordon, Dominique Abel, Emmanuelle Riva.
Duração: 83 minutos

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