Crítica: “Janis: Little Girl Blue”, dirigido por Amy J. Berg

Muita gente sabe como Janis Joplin morreu. Uma overdose de heroína em 1970 – antes do lançamento de seu segundo álbum solo, o excelente Pearl – a colocou no chamado “clube dos 27”, termo usado para se referir a músicos importantes que morreram jovens.

Mas pouca gente sabe como Janis Joplin viveu. E contar esta história é a grande sacada de Janis: Little Girl Blue, documentário de Amy J. Berg que está em cartaz no Brasil.

Berg quer ir além do mito criado pela morte precoce. Não tem grande interesse pelo “clube dos 27” ou em fazer de seu filme a trajetória de uma artista atormentada pelas drogas, como tantas cinebiografias musicais. Ainda que inclua as idas e vindas de Joplin com diferentes vícios, a diretora não perde tempo com o conhecido, preferindo construir um retrato mais completo e íntimo.

Janis Little Girl Blue

Berg foi contratada pela família de Joplin para dirigir o documentário, um trabalho ao qual se dedicou por cerca de oito anos (problemas de orçamento e negociações de direitos autorais atrasaram a produção). Com a ajuda dos irmãos da cantora, Laura e Michael, a cineasta reuniu um material de peso: imagens de arquivo, shows históricos como o do Festival de Monterey, em 1967, gravações de bastidores de turnês e dezenas de entrevistas com amigos, familiares e músicos que foram seus colegas nas bandas Big Brother and the Holding Company e Kozmic Blues Band.

Mas a alma do documentário é o material assinado pela própria artista: uma série de cartas que enviou aos pais após trocar Port Arthur, no Texas, por São Francisco, na Califórnia. É nas cartas, lidas pela cantora Cat Power, que se revela o lado menos desconhecido de Joplin. Sai o furacão dos palcos, a roqueira irreverente e confiante; entra uma jovem mulher comum, solitária e vulnerável.

É fascinante ouvir a própria Janis narrando seus dias na Califórnia, orgulhosa e segura de suas conquistas, mas ainda em busca da aprovação da família. Em busca, também, de um grande amor – e a história de seu último relacionamento só não é mais tocante do que o momento em que Joplin aparece cantando a música que dá título ao filme, em uma apresentação arrebatadora.

O foco de Berg está mais na vida do que na obra, mas a música está sempre presente e Janis: Little Girl Blue não deixa dúvida sobre o talento, a importância e o legado da cantora. Com este e outros documentários recentes – What Happened, Miss Simone?, Amy e Miss Sharon Jones! (ainda não lançado no Brasil) – está claro que talentos femininos da música são prato cheio para o cinema.

Janis: Little Girl Blues
[EUA, 2015]
Direção: Amy J. Berg
Duração: 103 minutos

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