Cinema nacional exclui mulheres negras, aponta estudo

Mulheres negras não dirigiram nem escreveram nenhum dos 142 longas-metragens brasileiros lançados nas salas do País em 2016, de acordo com o primeiro levantamento da Agência Nacional do Cinema (Ancine) a contemplar dados sobre raça.

Segundo o estudo, 75,4% dos filmes analisados foram dirigidos por homens brancos, 19,7% por mulheres brancas e 2,1% por homens negros. A presença dominante de homens brancos também é registrada em outras funções, como roteiristas (59,9%), diretores de fotografia (85%) e diretores de arte (59%).

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Mulheres brancas são maioria apenas na produção executiva, com percentual de 36,9% contra 26,2% de homens brancos. Na questão racial, porém, o cenário segue profundamente desigual: homens negros assumiram 2,1% da produção executiva enquanto mulheres negras não assinaram nenhuma produção sozinhas, participando apenas de equipes mistas.

A presença dos negros é reduzida também em frente às câmeras, constituindo apenas 13,4% dos atores e atrizes que atuaram nos 97 filmes brasileiros de ficção lançados em 2016 – ainda que representem 54% da população brasileira. Mais: 42,3% destes longas não têm nenhum artista negro no elenco.

Obras incentivadas

Também impressionante é a análise de raça e gênero dos profissionais por trás de obras incentivadas com recursos federais, que representam 61,3% da produção nacional em 2016. Entre todas estas obras, apenas 21% tinham mulheres na direção e 28%, no roteiro. Além disso, pessoas brancas dirigiram 100% das obras incentivadas e roteirizaram 98% .

Os índices são piores do que os registrados entre as obras não incentivadas, nos quais brancos representam 94% dos diretores e 93% dos roteiristas. O estudo da Ancine também ecoou levantamentos internacionais ao apontar que filmes com diretores ou roteiristas negros têm mais chances de ter atores negros no elenco.

Durante a apresentação dos dados, realizada no dia 25 de janeiro, o Ministério da Cultura prometeu implementar medidas para tentar reverter a desigualdade de gênero e raça no audiovisual. A primeira, a ser anunciada em fevereiro, será “o maior pacote de editais em volume de recursos” da história da Secretaria do Audiovisual, “voltado a estimular a inserção de mulheres, negros e indígenas no mercado audiovisual.”

O estudo sobre gênero e raça no audiovisual brasileiro será anual e o balanço de 2017 será publicado em junho como parte do Observatório do Cinema e Audiovisual (OCA). Acesse o relatório de 2016 aqui.

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