20 filmes dirigidos por mulheres sobre a ditadura

Em 2021 completam-se 57 anos do golpe de 1964, que deu início a mais de duas décadas de ditadura militar no Brasil. Neste período, o governo cancelou eleições, censurou a imprensa e atuou com brutalidade, perseguindo, prendendo, torturando e assassinando opositores.

Leia também: 14 documentários nacionais recomendados por diretoras brasileiras
Apoie: Colabore com o Mulher no Cinema e acesse conteúdo exclusivo

Tema marcante do cinema brasileiro, o golpe militar foi e continua sendo explorado tanto em documentários como em filmes ficcionais. Mulher no Cinema reuniu 20 longas-metragens dirigidos por mulheres que abordam o período e mostram que a ditadura deve ser cada vez mais discutida – e nunca comemorada.

*

“Que Bom Te Ver Viva” – [Brasil, 1989]
A diretora Lucia Murat combina ficção e documentário neste filme centrado nas histórias de mulheres que, como ela, foram presas e torturadas durante a ditadura militar. Quem conduz o espectador é Irene Ravache, interpretando uma personagem anônima. Saiba mais sobre o longa 


“AI-5 – O Dia que Não Existiu” – [Brasil, 2004]
Com direção geral de Paulo Markun e direção artística de Adelia Sampaio, o documentário reconstitui a sessão da Câmara  dos Deputados que, em dezembro de 1968, rejeitou o pedido do governo para processar o então deputado Márcio Moreira Alves (1936-2009). O episódio é tipo como pretexto para a edição do Ato Inconstitucional 5, que desencadeou o período mais duro da ditadura militar.


“Memórias Clandestinas” – [Brasil, 2004]
Dirigido por Maria Thereza Azevedo, o documentário é centrado em Alexina Crespo e sua atuação nas Ligas Camponesas, grupo que lutou pela reforma agrária e foi perseguido pelos militares. O filme também aborda a vida familiar de Crespo, que foi casada com Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas.


“Corpo” – [Brasil, 2007]
Com direção de Rossana Foglia e Rubens Rewald, a ficção narra a obsessão de um médico legista (interpretado por Leonardo Medeiros) em descobrir a identidade de um cadáver. O corpo fora encontrado em meio a restos mortais de presos políticos mortos durante a ditadura. 


“Memória para Uso Diário” – [Brasil, 2007]
Durante mais de 30 anos, Ivanilda procurou por sinais do seu marido, desaparecido desde 1975. Suas idas e vindas se combinam às ações de militantes e parentes das vítimas da ditadura e da violência policial no Rio de Janeiro. A partir da história dela, o documentário de Beth Formaggini mostra a ação do grupo Tortura Nunca Mais, que busca impedir que o que aconteceu no passado se repita no futuro.


“Diário de uma Busca” – [Brasil, França, 2010]
Em outubro de 1984, o jornalista Celso Castro foi encontrado morto no apartamento de um ex-oficial nazista, no que a polícia afirmou se tratar de suicídio. Este episódio é o ponto de partida deste documentário, no qual a diretora Flavia Castro, filha de Celso, investiga a vida e a morte de seu pai. 


“Marighellla” – [Brasil, 2012]
Líder comunista, preso político, parlamentar e autor, Carlos Marighella (1911-1969) foi considerado o  inimigo número 1 da ditadura militar brasileira e assassinado por agentes do DOPS. Neste documentário, a diretora Isa Grinspum Ferraz, sobrinha de Marighella, recupera sua trajetória.


“Os Dias com Ele” – [Brasil/Portugal, 2012]
Em seu primeiro longa-metragem como diretora, Maria Clara Escobar volta a câmera para ela e seu pai, Carlos Henrique Escobar, filósofo e dramaturgo que foi preso e torturado durante ditadura militar. Em conversas com o pai, ela busca acessar memórias, quebrar silêncios e preencher lacunas sobre o período.


“Hoje” – [Brasil, 2013]
Vera (Denise Fraga) é uma ex-militante política que realiza o sonho de comprar seu próprio apartamento. Para fazer a compra, ela usa o dinheiro da indenização recebida pelo desaparecimento de seu marido durante a ditadura. Mas, no dia da mudança, ele reaparece. Dirigido por Tata Amaral.


“A Memória que me Contam” – [Brasil, 2013]
Irene Ravache interpreta o alter-ego da diretora Lucia Murat ao viver uma ex-revolucionária que reencontra antigos companheiros de resistência em uma sala de hospital. Todos aguardam notícias sobre a saúde da também guerrilheira Ana (Simone Spoladore), personagem livremente inspirada na economista e socióloga Vera Silvia Magalhães (1948-2007), que foi amiga de Murat e a quem o filme é dedicado.


“Setenta” – [Brasil, 2013]
Em 1970, durante a ditadura militar, um grupo de 70 presos políticos foi enviado ao Chile como exigência para a libertação do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher (1913-1992), que havia sido sequestrado. O documentário de Emília Silveira fala com alguns dos ex-presos, 40 anos depois.


“Repare Bem” – [Brasil/Portugal/Espanha, 2013]
O documentário dirigido pela cineasta portuguesa Maria de Medeiros mostra o impacto da ditadura na família da brasileira Denise Crispim. Presa e torturada pelos militares enquanto estava grávida da filha, Eduarda, ela fugiu com a criança para o Chile, onde a violência da repressão voltou a atingi-las. 


“Retratos de Identificação” – [Brasil, 2014]
Durante a ditadura militar, presos políticos eram fotografados durante investigações, interrogatórios, exames de corpo de delito, processos de banimento e inquéritos policiais militares. O documentário da cineasta Anita Leandro confronta estas imagens com depoimentos de sobreviventes.


“Galeria F” – [Brasil, 2016]
O documentário de Emília Silveira narra a trajetória de Theodomiro Romeiro dos Santos. Capturado pelos militares, ele mata um sargento que tentava atingir um companheiro. Após cumprir nove anos da prisão e sobreviver à tortura, Theodomiro é ameaçado de morte e decide fugir. No filme, refaz o caminho da fuga ao lado do filho Guga, que entra em contato com a história do pai pela primeira vez.


“Trago Comigo” – [Brasil, 2016]
Telmo é um diretor de teatro aposentado que não consegue se lembrar totalmente do que passou durante a ditadura militar. Por isso, decide montar uma peça, combinando a memória com improvisos do elenco. Dirigido por Tata Amaral. Leia entrevista sobre o longa 


“Amores de Chumbo” – [Brasil, 2017]
Após 40 anos, a escritora Maê reencontra o casal Miguel e Lúcia – ele um professor de sociologia e ex-preso político, ela a parceira que se dedicou a tirá-lo da prisão. Pelo ponto de vista desses três personagens, o filme revive a história política e social do Brasil nos anos de ditadura militar. Dirigido pela cineasta Tuca Siqueira.


“Pastor Cláudio” – [Brasil, 2017]
Uma conversa entre o psicólogo Eduardo Passos e Cláudio Guerra, assassino que esteve a serviço do Estado brasileiro durante a ditadura militar. Pastor Cláudio foi responsável por mortes, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres de militantes que até hoje estão desaparecidos. Documentário de Beth Formaggini.


“Histórias que Nosso Cinema (não) Contava” – [Brasil, 2018]
O documentário dirigido por Fernanda Pessoa realiza uma releitura histórica da ditadura militar no Brasil, com foco nos 1970. Para isso, utiliza apenas imagens e sons de 27 filmes produzidos no período e que foram considerados pornochanchadas, o gênero mais visto na época. Leia a entrevista com a diretora.


“Deslembro” – [Brasil, 2018]
Joana vive em Paris quando a Anistia é decretada no Brasil. Contra a sua vontade, ela volta ao país onde nasceu mas do qual mal se lembra, e entra em contato com uma trágica parte de seu passado: o desaparecimento de seu pai nos porões do DOPS. Leia a entrevista com a diretora Flavia Castro e conheça outras mulheres da equipe.


“Torre das Donzelas” – [Brasil, 2018]
Quarenta anos após serem presas e torturadas pela ditadura militar, um grupo de mulheres se encontra para relembrar sua passagem pela Torre das Donzelas, como era conhecida a área feminina do Presídio Tiradentes, em São Paulo (SP). Dirigido pela cineasta Susanna Lira.


Luísa Pécora é jornalista e criadora do Mulher no Cinema  – este texto foi atualizado em março de 2021

2 thoughts on “20 filmes dirigidos por mulheres sobre a ditadura

  1. Fundamental o trabalho dessas mulheres sobre esse período negro da história do Brasil. Mais importante se torna quando o governo atual nega a existência desse período como ditadura e minimiza fatos tão contundentes.

Deixe um comentário para Nara Fogaça de Souza Nunes

Top