10 filmes para conhecer o cinema de Chantal Akerman

“Existem cineastas bons, cineastas ótimos, cineastas que estão na história do cinema. E existem alguns poucos cineastas que mudaram a história do cinema”

A frase é de Nicola Mazzanti, chefe do Royal Belgian Film Archive, sobre Chantal Akerman (1950-2015), diretora belga que foi pioneira do cinema experimental e feminista. Em mais de 40 anos de carreira, a cineasta fez curtas, longas, ficções, documentários e videoinstalações muitas vezes retratando cenas cotidianas e convidando o espectador a observar e sentir a passagem do tempo.

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Entrevista:
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“Tudo o que você tem é o tempo”, afirmou, certa vez, a diretora. “Nos meus filmes, vocês está ciente de cada segundo que passa, através do seu corpo. Você está diante de si mesmo. Você está cara a cara com o outro. É a partir deste face a face fundamental que seu senso de responsabilidade se inicia.”

Mulher no Cinema reuniu dez filmes para quem quer (começar a) conhecer a obra de Akerman:


“Eu, Tu, Ele, Ela” – [Je Tu Il Elle, França/EUA, 1974)
Julie, interpretada pela própria diretora, é uma jovem que se confina em sua casa, arrumando o quarto, escrevendo cartas e comendo açúcar. Certo dia, decide sair para encontrar a ex-namorada.


“Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles” – [Bélgica/França, 1975]
Considerado um dos filmes mais importantes do cinema (é sobre ele o comentário que abre esse texto), estreou quando Akerman tinha 25 anos. Acompanha a rotina de uma mulher, interpretada por Delphine Seyrig, que faz tarefas em casa e trabalha para sustentar a ela e ao filho.

Na New Yorker, Richard Brody escreveu:

“Akerman apresentou imagens monumentalmente compostas e meticulosamente observadas da rotina doméstica de uma mulher […] Estas imagens provam cinematograficamente que as vidas domésticas das mulheres são arte; que as vidas privadas das mulheres são devastadas pela história tanto quanto as vidas no palco público da política; que a pressão do confinamento inquestionável e incontestável das mulheres ao âmbito doméstico e aos papéis familiares é uma loucura social que leva à ruína, é uma forma de violência que gera violência.”


“Notícias de Casa” – [News From Home, França/Bélgica/Alemanha, 1977]
No início dos anos 1970, Akerman morou por um período em Nova York. Em Notícias de Casa, ela combina imagens de diferentes pontos nova-iorquinos à leitura de cartas escritas por sua mãe e enviadas da Bélgica.


“Os Encontros de Anna” – [Les rendez-vous d’Anna, França/Bélgica/Alemanha, 1978]
Anne Silver (interpretada por Aurore Clément) é uma renomada cineasta que está lançando um novo trabalho. O filme a acompanha em breves encontros durante uma turnê promocional por cidades europeias.


“Do Leste” – [D’Est, Bélgica/França/Portugal, 1993]
Passando por Alemanha Oriental, Polônia, Lituânia, Ucrânia e Rússia, o documentário de Chantal Akerman faz um retrato da Europa Oriental após o fim da União Soviética. Exibido em Berlim.


“Um Divã em Nova York” – [Un divan à New York, França/Alemanha/Bélgica, 1996)
Talvez o filme mais “comercial” da diretora, conta a história de um analista nova-iorquino e uma jovem parisiense que, sem se conhecer, trocam de casa. Os protagonistas são Juliette Binoche e William Hurt.


“Sud” – [França/Bélgica, 1999]
Um olhar sobre a região sul dos Estados Unidos a partir de um crime motivado por racismo: o assassinato de James Byrd Jr., homem negro que foi espancado e arrastado pelo asfalto em Jasper, Texas.


“A Prisioneira” – [La Captive, França/Bélgica, 2000]
Uma adaptação da obra de Marcel Proust (1871-1922), um dos autores que mais marcaram Akerman. Ambientado em Paris, o filme mostra a relação entre Ariane e Simon, um homem ciumento.


“A Loucura de Almayer” – [La folie Almayer, Bélgica/França, 2011]
Também uma adaptação literária, desta vez da obra escrita por Joseph Conrad (1857-1924). Akerman passou a narrativa dos anos 1890 para os 1950, contando a história de um ambicioso comerciante holandês na Malásia e sua relação com a filha, Nina.


“Não É um Filme Caseiro” – [No Home Movie, França/Bélgica, 2015]
O último filme de Chantal Akerman é um ótimo documentário sobre o relacionamento com a mãe, Natalia, que morreu em 2014, alguns meses após o término das filmagens. Sobrevivente de Auschwitz, Natalia teve uma profunda influência no trabalho da filha.


Luísa Pécora é jornalista e criadora do Mulher no Cinema

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