Os filmes de mulheres que marcaram 2016

"Mãe Só Há Uma", de Anna Muylaert

Fazer lista de melhores filmes do ano é pedir para sofrer: tanta coisa que não deu para ver, tanta coisa boa que ficou de fora, tanta coisa. Mas aqui estou para listar dez longas-metragens – cinco dirigidos por mulheres e cinco estrelados por mulheres – que ficaram na minha memória em 2016. A única regra: que os filmes tenham estreado nos cinemas brasileiros a partir de janeiro ou sejam produções deste ano que estrearam direto no streaming.

O que ficou faltando? Listem seus favoritos também!

Melhores do ano: Diretoras brasileiras escolhem seus filmes preferidos de 2016

E não esqueçam de conferir uma lista bem mais legal publicada pelo Mulher no Cinema: a dos melhores filmes dirigidos por mulheres de 2016, escolhidos por diretoras brasileiras. Tem muita dica boa!


5 filmes dirigidos por mulheres que marcaram 2016

 

 

 

 

 

 

 

Cinco Graças, de Deniz Gamze Ergüven
O primeiro longa-metragem da diretora Deniz Gamez Ergüven aponta para uma carreira brilhante. Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, Cinco Graças emocionou plateias do mundo inteiro com a história de irmãs órfãs criadas em um ambiente repressor pela família conservadora em um pequeno vilarejo turco. Também autora do roteiro (em parceria com Alice Winocour), Ergüven acertou principalmente ao criar personagens vibrantes, com personalidade própria e destinos diferentes, sem que o filme se feche em apenas um caminho. Entre momentos de resiliência e de rebeldia, e entre finais felizes e trágicos, Cinco Graças concede que, diante da repressão, não há resposta ou solução única. Leia a crítica

A 13ª Emenda, de Ava DuVernay
Produzido em segredo pela Netflix, o documentário da diretora Ava DuVernay foi a primeira obra de não-ficção a abrir o Festival de Cinema de Nova York. Não é difícil entender o motivo da escolha histórica: A 13ª Emenda é sem dúvida um dos filmes mais relevantes do ano, lançado em tempos de Black Lives Matter e apenas um mês antes da eleição presidencial norte-americana. Se antes da vitória de Donald Trump a obra era impactante, agora é devastadora: um contundente argumento sobre como o sistema prisional dos Estados Unidos reflete os anos de escravidão e o longo histórico de racismo no país. Um filme necessário, para ser visto mais de uma vez. Veja o trailer

A Intrometida, de Lorene Scafaria
Aos 69 anos, a atriz Susan Sarandon interpreta um dos melhores papéis da carreira nesta comédia sobre Marnie, uma mulher que, após perder o marido, se muda para a Califórnia para ficar perto da filha e a sobrecarrega com ligações constantes e visitas inesperadas. Nas mãos de Scafaria, também responsável pelo roteiro, essa história aparentemente simples e sem grandes pretensões se transforma em um comovente retrato do processo de luto e das relações entre mães e filhas. E como boa comédia, A Intrometida não se esquece de provocar boas risadas, em grande parte graças ao espírito leve, divertido e atrapalhado de Marnie – e à ótima atuação de Sarandon. Veja o trailer

Janis: Little Girl Blue, de Amy J. Berg
Os oito anos de trabalho que a diretora Amy J. Berg dedicou ao documentário sobre Janis Joplin valeram a pena. Com a ajuda dos irmãos da cantora, a cineasta reuniu um material de peso, que vai além das imagens de arquivo e das entrevistas com amigos e familiares: a alma do filme está nas cartas que Joplin enviou aos pais após trocar Port Arthur, no Texas, por São Francisco, na Califórnia. Os textos da cantora revelam seu lado menos conhecido: sai o furacão dos palcos, a roqueira irreverente e confiante; entra uma jovem mulher comum, solitária e vulnerável. Um documentário completo e íntimo, mais interessado em como Joplin viveu do que em como morreu. Leia a crítica

Mãe Só Há Uma, de Anna Muylaert
Anna Muylaert tinha uma missão difícil: lançar um novo trabalho tão pouco tempo depois do estrondoso sucesso de Que Horas Ela Volta?. Mas a diretora conseguiu atender à alta expectativa do público, apresentando um filme bem diferente do anterior, com um terço do orçamento, protagonista novato e menor apelo comercial. A sinopse – um adolescente que descobre ter sido roubado na maternidade, e vai viver com a nova família – não dá conta do verdadeiro tema do longa, que usa a premissa do sequestro como pano de fundo para um debate maior sobre identidade e sexualidade, sem exigir grandes definições, rótulos ou explicações. Leia entrevista com a diretora


5 filmes sobre mulheres que marcaram 2016

 

 

 

 

 

 

 

Aquarius, de Kleber Mendonça Filho
Muito se falou sobre o filme brasileiro que, após competir no Festival de Cannes, não foi escolhido como o candidato do País ao Oscar. Foi, sem dúvida, a produção nacional mais comentada do ano. Mas acima da polêmica está a atuação de Sonia Braga, escolha perfeita para o papel da corajosa Clara, uma mulher que se recusa a vender seu apartamento no Recife apesar da pressão da construtora. Aos 66 anos, uma das principais atrizes brasileiras volta a ser protagonista, e carrega uma história que discute, entre outros temas, a passagem do tempo e o envelhecimento. Seu trabalho em Aquarius é, também, um recado sobre a representação das mulheres no cinema.

A Chegada, de Dennis Villeneuve
Raro longa de ficção científica que ficou comigo após os créditos, é centrado em Louise Banks, linguista recrutada para se comunicar com extraterrestres que chegaram à Terra. Dennis Villeneuve acertou ao colocar o foco na linguagem e na comunicação, garantindo um filme mais inteligente do que os blockbusters em que a invasão alienígena serve de desculpa para tiros, explosões, efeitos especiais e óculos 3D. Da mesma forma, os ETs fogem ao estereótipo e poucas vezes me lembro de ter visto representações tão visualmente interessantes. Por fim, acertou ao escolher Amy Adams, cujo trabalho é tão consistente que chega a passar batido – dela já se espera uma boa atuação. Aqui, mais uma vez, ela não decepciona.

Julieta, de Pedro Almodóvar
Alice Munro, a autora dos contos que inspiraram Julieta, é minha escritora favorita. Logo, minha simpatia pelo filme, que conta a história de uma mulher que tem relacionamento distante com a filha, começou bem antes de comprar o ingresso. No início, pensei que Almodóvar não seria o diretor que eu teria escolhido para uma adaptação, já que o texto de Munro nada tem de melodramático ou exagerado, duas das marcas do espanhol. Por outro lado, a escritora é mestre em criar personagens femininas complexas e bem desenvolvidas, material ideal para um cineasta que colocou as mulheres no centro de sua obra. O resultado é um filme ao mesmo tempo fiel aos contos e tipicamente almodovariano.

Nossa Irmã Mais Nova, de Hirokazu Kore-eda
Como Cinco Graças, o filme foca no relacionamento entre irmãs – três mulheres (interpretadas por Haruka Ayase, Masami Nagasawa e Kaho) vão ao velório do pai e conhecem a irmã mais nova, a adolescente Suzu (Suzu Hirose), fruto de um segundo casamento. Ao contrário de Cinco Graças, porém, o longa japonês não tem grandes brigas, parentes repressores ou explosões de violência. À primeira vista, aliás, pode parecer um filme “sem história”. Cena após cena, Kore-eda acompanha as irmãs levando vidas comuns: vão ao trabalho, preparam receitas, discutem durante o jantar. Juntos, tais fragmentos de cotidiano formam uma bonita observação e celebração das emoções humanas e das relações familiares.

Tangerine, de Sean S. Barker
Filme independente para os dias atuais, Tangerine chamou a atenção primeiramente pela forma: foi inteiramente filmado com um iPhone (aliás, três). Mas a pegada original do longa se deve principalmente à dupla de protagonistas, Kitana Kiki Rodrigues e Mya Taylor. Quantos filme centrados em mulheres negras transexuais você já viu? E com atrizes negras transexuais interpretando esse papéis? A escolha do elenco deu frescor à história de amizade feminina ambientada no mundo da prostituição em Los Angeles. A torcida, agora, é para que Rodriguez e Taylor consigam outras oportunidades e possam interpretar personagens bem variados. Talento e carisma não faltam.

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