Virginia Cavendish fala sobre “Através da Sombra” e vantagens de ser produtora

O diretor Walter Lima Jr. trabalhava com Virginia Cavendish no teatro quando propôs um novo projeto: uma peça inspirada em A Volta do Parafuso, obra lançada pelo escritor britânico Henry James em 1898. Ela gostou da ideia, mas achava que a adaptação deveria ser para as telas, e não para os palcos. Como atriz, ela queria voltar a fazer cinema. Como produtora, viu a oportunidade de desenvolver um tipo de filme pouco explorado pelo mercado nacional.

“Achei que seria uma novidade adaptar um clássico da literatura mundial para o Brasil”, afirmou, em entrevista ao Mulher no Cinema. O gênero da obra também representava a oportunidade de preencher uma espécie de lacuna: “Temos um público grande para conquistar: o que assiste a filmes americanos de suspense.”

O resultado é Através da Sombra, que chegou às salas em novembro após rodar o País em festivais. A atriz interpreta Laura, professora contratada para cuidar da educação de dois órfãos em uma fazenda de café. Em pouco tempo, estranhos acontecimentos a fazem suspeitar que as crianças estejam sob a influência de espíritos malignos.

Na tela, Cavendish divide a cena com Ana Lucia Torre, Mel Maia e Domingos Montagner. Por trás das câmeras, divide a produção com Maria Dulce Saldanha. Desde 2004, quando criou a empresa Casa Forte, a atriz tem produzido bem mais peças do que filmes. Mas isso pode mudar: “Vou me organizar para fazer bastante cinema”, promete. “Essa é a meta.”

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Na entrevista a seguir, feita por e-mail, Cavendish fala sobre como se preparou para Através da Sombra, a experiência de fazer um filme de suspense e os motivos que a levaram a trabalhar também como produtora.

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O Walter Lima Jr. me disse que, inicialmente, propôs que vocês fizessem uma peça baseada na obra de Henry James, e que foi sua a ideia de fazer um filme. O que fez você pensar que a adaptação deveria ser para o cinema?
Foi intuitivo. Em primeiro lugar, pensei que seria muito bom trabalhar com o Walter Lima na linguagem do cinema, que é de onde ele veio e onde eu tive minhas melhores experiências como atriz até então. Este foi meu pensamento de atriz. Como produtora, achei que seria uma novidade, na época, adaptar um clássico da literatura mundial para o Brasil. [Trata-se de] uma prateleira do nosso cinema ainda nada desenvolvida e experimentada.

Muitos leitores e especialistas debateram A Volta do Parafuso ao longo dos anos, tentando decifrar se os fantasmas existem mesmo ou se estão na cabeça da sua personagem. Como você encarou a ambiguidade da obra ao se preparar para o papel? Optou por uma explicação ou abraçou a dúvida?
Essa decisão foi tomada em cada cena no momento em que filmávamos. Em algumas cenas acreditávamos nas duas hipóteses, mesclávamos as intenções. Em outras, [acreditávamos] que meu personagem era a entidade da morte. Muita gente me pergunta se sou [outra personagem] encarnada, outras dizem que exorcizei e limpei a casa dos espíritos, outras que sou uma mãe em busca do filho… temos bem mais do que duas opções e acho isso maravilhoso.

Como outros filmes do Walter Lima Jr., Através da Sombra aborda o medo e a repressão, sobretudo sexual. Como você trabalhou esse lado da personagem?
Pois é, para mim foi o primeiro [filme com essa temática], e foi difícil no começo. Mas trabalhamos através do olhar – olhar para dentro de si. No filme a Laura olha para todos os homens, ou pelo menos se sente olhada e invadida por eles. Atuei sempre ouvindo o som do meu coração, que batia forte o tempo todo em cena, mesclando o medo da atriz e do personagem. E isso me levava sempre para meu mundo interior.

Como foi a experiência de fazer suspense? É um gênero que pode ser mais explorado no Brasil?
Não é muito diferente de fazer outros filmes…talvez distante das comédias, apenas. Acho que podemos e devemos [explorar mais o gênero]. Temos um público grande para conquistar: o que assiste a filmes americanos de suspense.

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Muitas atrizes começam a produzir para assegurar bons papéis para si mesmas, e assim não ter de ficar sempre esperando por convites e oportunidades. Foi o seu caso?
Sim e não. Produzo desde a época em que morava em Recife. A minha faceta produtora sempre veio agregada à de atriz. Para mim é muito fácil produzir. Pude confirmar isso como sendo uma coisa bastante positiva quando um dia conversei com a Fernanda Montenegro, que me disse: “Sempre me produzi porque queria ter o controle dos personagens que gostaria de fazer no teatro, e assim ter o comando no desenho de minha carreira.” A única diferença é que faço isso no teatro e também no cinema. Além de que adoro todas as etapas na produção de um filme.

Até agora, você produziu mais teatro do que cinema. Tem alguma razão para isso?
É mais barato, fácil e artesanal [fazer teatro]. A cada captação [para Através da Sombra] eu falava: “Meu Deus, faria três peças com esse dinheiro!” E ainda faltava um terço [do orçamento] para poder fazer o filme. Mas vou me organizar para produzir bastante cinema. Essa é a meta, vamos ver o que consigo. Produzir para a televisão também está nos meus planos. Estou escrevendo uma série chamada Praia do Medo.

Que conselho você daria para atrizes que também querem começar a produzir seus trabalhos?
Primeiro, encontrar uma voz, saber o que quer dizer. Depois, arranjar um jeito de conseguir! [risos] Assim você vai longe…

Sua filha, Luisa Arraes, também é atriz e foi um dos destaques da série Justiça. Você ensinou ou gostaria de ensinar algo a ela no que diz respeito a ser uma mulher na indústria do entretenimento?
Ela herdou o gene – isso basta. Já produz e cria seus próprios projetos desde adolescente. Estarei sempre junto para ajudar. Ajudaremos uma à outra, a vida toda.

Veja o trailer de Através da Sombra:

https://www.youtube.com/watch?v=2YXgE59duGE


* Foto do topo: Aline Arruda/Agência Foto

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