‘Do Jeito Que Elas Querem’ retrata amor na terceira idade

Hollywood é conhecida por estabelecer prazo de validade bem mais curto para atrizes do que para atores. Nos 100 filmes de maior bilheteria nos Estados Unidos em 2017, por exemplo, 46% dos personagens masculinos tinham 40 anos ou mais, um índice que cai para 29% no caso das mulheres, segundo estudo da San Diego State University.

Dados como este alimentam a expectativa por filmes como Do Jeito Que Elas Querem, comédia em cartaz no cinemas brasileiros que escalou como protagonistas quatro atrizes com idade entre 65 e 80 anos: Diane Keaton, Jane Fonda, Mary Steenburgen e Candice Bergen – as três primeiras já premiadas com o Oscar; a outra, cinco vezes ganhadora do Emmy.

Este elenco de peso dá vida a um grupo de mulheres que são amigas há quase duas décadas, e que seguem juntas apesar das diferentes personalidades e momentos de vida. A dona de casa Diane (Keaton) ficou viúva há cerca de um ano, após 40 de casamento; a juíza Sharon (Bergen) se aposentou da vida amorosa há muito tempo, logo após se divorciar do marido; a chef Carol (Steenburgen) ainda está casada, mas lamenta que a rotina tenha tomado o lugar da paixão; e a dona de hotel Vivian (Fonda) é a única a manter uma vida sexual ativa, enquanto foge de qualquer tipo de compromisso.

Jane Fonda em cena de “Do Jeito Que Elas Querem”

As quatro se reúnem mensalmente para reuniões no estilo clube do livro, nas quais abrem uma (várias) garrafas de vinho e conversam um pouco sobre a obra e muito sobre a vida. Eis que Vivian movimenta o cotidiano de todas ao escolher um título polêmico para a próxima leitura: Cinquenta Tons de Cinza, o best-seller erótico de E.L. James. Sob o impacto de Christian Grey, Diane deixa o luto e começa um novo romance, Sharon decide testar aplicativos de namoro, Carol tenta apimentar a relação e Vivian reencontra um namorado do passado.

Cinquenta tons à parte, o amor na terceira idade, e não o sexo, é o verdadeiro tema do diretor estreante Bill Holderman, que divide o roteiro com Erin Simms. Uma ereção fora de hora causada por uma dose surpresa de Viagra talvez seja o momento mais picante de Do Jeito Que Elas Querem, um filme muito mais careta nas piadas e nos modelos familiares do que, por exemplo, a série Grace and Frankie, estrelada por Fonda e Lily Tomlin.

Grace and Frankie é a referência mais óbvia, mas Holderman também empresta muitos elementos da filmografia de Nancy Meyers, a começar pelos ambientes dignos de revista de decoração. Uma inspiração que até confere certa elegância visual à Do Jeito Que Elas Querem, mas sai pela culatra ao servir como lembrete de que Meyers já fez um filme melhor e mais engraçado sobre tema parecido: Alguém Tem Que Ceder (2003), estrelado por Keaton.

Diane Keaton e Andy Garcia em cena de “Do Jeito Que Elas Querem”

Mais do que pela falta de ousadia, o roteiro peca pela preguiça. A trama de Keaton, por exemplo, gira em torno de um drama absolutamente sem sentido: as filhas que insistem na completa incapacidade da mãe em viver sozinha em outro Estado – ou de viver, ponto – sem que nada tenha acontecido para justificar tamanha preocupação. Da mesma forma, os homens da trama estão ali só para cumprir tabela e preencher a outra metade de relações que se encaminham de forma previsível.

Não é que Do Jeito Que Elas Querem seja ruim: na verdade, é até um filme simpático que provoca algumas boas risadas. Mas é de se lamentar que este tipo de história requentada e convencional seja o melhor que Hollywood tenha a oferecer tanto a atrizes deste calibre quanto ao público que está claramente interessado nelas: a comédia, afinal, já faturou seis vezes mais do que seu orçamento de produção, e estreou em terceiro lugar nas bilheterias brasileiras.

É um caso parecido ao de outro sucesso em cartaz, Oito Mulheres em um Segredo, dirigido por Gary Ross e com elenco de estrelas liderado por Sandra Bullock. Ambas as produções parecem se apoiar na ideia de que o casting vale mais do que o roteiro, de que oferecer tempo de tela a atrizes populares basta para que um filme se sustente como tal. Enquanto a discussão sobre a representação feminina pega fogo, Hollywood aposta que dar qualquer tipo de protagonismo às mulheres (e em frente às câmeras, pois ambos os filmes têm direção masculina) é suficiente para contentar atrizes com poucas oportunidades e plateias desacostumadas a vê-las nas telas. Até quando?

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Este filme passa no teste de Bechdel-Wallace. Clique para saber mais.“Do Jeito Que Elas Querem”
[Book Club, EUA, 2018]
Direção: Bill Holderman
Elenco: Diane Keaton, Jane Fonda, Candice Bergen, Mary Steenburgen.
Duração: 104 minutos


Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema.

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