Indicado ao Oscar, documentário “A Juíza” homenageia Ruth Bader Ginsburg

O documentário A Juíza (RBG, no título original), que concorreu ao Oscar e estreia nesta quinta-feira (23) nos cinemas brasileiros, é uma homenagem à norte-americana Ruth Bader Ginsburg, de 86 anos, e ao amor pelo serviço que exerce na Suprema Corte dos Estados Unidos há quase três décadas.

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Dirigido por Betsy West e Julie Cohen, o filme chega às salas do Brasil cerca de dois meses após Suprema, um longa ficcional que foca na juventude de Ruth, interpretada pela atriz inglesa Felicity Jones. E se a ficção da diretora Mimi Leder não impressionou, o mesmo não pode ser dito de A Juíza.

Para introduzir o público ao perfil liberal de Ruth Bader Ginsburg, o filme começa com trechos de áudios dos seus detratores de direita, que a veem como um “demônio” e uma ameaça para a América. Repleto de entrevistas e materiais de arquivo, o documentário vai apresentando, de modo tradicional e didático, o temperamento introvertido de Ruth, assim como suas conquistas.

Antes de entrar para a Suprema Corte, ela construiu uma carreira jurídica dedicada aos direitos das mulheres e ao combate à desigualdade de gênero. Pode até não parecer especialmente controversa agora, mas a ideia de que as mulheres são cidadãs iguais aos homens não se aplicava em várias leis americanas das décadas de 1960 e 1970. Ruth se mostrou brilhante ao usar a própria legislação como instrumento de mudança, mas certamente nunca imaginou que sua luta a transformaria em fenômeno pop. Hoje, a juíza é tema de memes, bonecas e camisetas, e um exemplo para jovens feministas como a advogada Shana Knizhnik e a jornalista Irin Carmon, que coescreveram o livro Notorious RBG: The Life and Times of Ruth Bader Ginsburg (2015).

O filme torna-se ainda mais interessante ao mostrar a vida pessoal da juíza, principalmente sua relação com o também advogado Martin Ginsburg, com quem ela foi casada por mais de 50 anos, até sua morte em 2010.

Martin colocou seus interesses em segundo plano, celebrou e encorajou Ruth em seu trabalho, o que foi crucial para a vida profissional dela. Ele se mudou para Washington para acompanhar a mulher, fez campanha para que ela fosse escolhida para a Suprema Corte pelo presidente Bill Clinton e, em um discurso reproduzido no filme, disse que era ele quem se ocupava da cozinha e da casa enquanto Ruth fazia história. É um tipo de papel raramente assumido pelos homens, principalmente há algumas décadas. No documentário Virando a Mesa do Poder, disponível naNetflix, a congressista Alexandria Ocasio-Cortez é filmada recebendo esse mesmo tipo de suporte do namorado, o web developer Riley Roberts, como apontaram a repórter Emma Gray, neste artigo do HuffPost, e a colunista Arwa Mahdawi, do Guardian.

No momento em que vários estados americanos sancionam leis antiaborto numa tentativa de alterar Roe vs. Wade, a histórica decisão da Suprema Corte sobre o tema, A Juíza cumpre a função de ser um tributo leve e amável, por vezes engraçado, mas que entusiasma as mulheres a ocuparem os espaços de poder na sociedade. Pois essa luta é incansável, como Ruth Bader Ginsburg.

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“A Juíza” – [RBG, EUA, 2018]
Direção: Betsy West e Julie Cohen
Duração: 98 minutos


Letícia Mendes é jornalista e mestranda em estudos sobre as mulheres.

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