Crítica: “Miss Julie”, novo filme da diretora Liv Ullmann

Uma atuação impecável de Jessica Chastain é a alma de “Miss Julie”, drama dirigido por Liv Ullmann que está em cartaz no Brasil. De certa forma, o filme reaproxima do teatro a atriz que chamou a atenção de Hollywood depois de ser escalada por Al Pacino para uma elogiada montagem de “Salomé”.

Ullman aposta no tom teatral para levar às telas a peça de August Strindberg sobre Julie (Chastain), uma solitária aristocrata que, durante o solstício de verão, divide sua casa apenas com o empregado do pai, Jean (Colin Farrell), e a mulher de quem ele esta noivo, a cozinheira Christine (Samantha Morton, também ótima).

Depois de tirarem Christine de cena, Julie e Jean seduzem um ao outro e fazem sexo. Em se tratando da Irlanda de 1890, está instalada a crise: não fosse condenável o suficiente que uma mulher se entregasse a um homem, ela fez pior ao se envolver com um empregado.

As relações de classe e poder são o grande tema de Ullmann: enquanto Julie se divide entre dar ordens ao empregado e ouvi-lo com compaixão, Jean transita entre admiração e raiva por quem está acima ele. Para ambos, desafiar as convenções da época é, ao mesmo tempo, prazeroso e desolador.

Propositalmente, a diretora cria um filme claustrofóbico, com a ação quase que inteiramente confinada à mansão – principalmente à cozinha. “Miss Julie” se dedica à mostrar conversas entre os personagens, filmadas com takes longos e closes, e com silêncios preenchidos pela bela trilha sonora que inclui Schubert, Chopin e Bach.

Mais de uma vez a discussão entre Julie e Jean esquenta e Ullmann se aproxima de uma observação social mais contundente. O filme, porém, nunca emplaca de verdade, e logo voltam os mesmos diálogos, os mesmos cenários, as mesmas cores apagadas. Chastain extrapola as amarras, mas “Miss Julie”, não.

“Miss Julie”
[Noruega/Reino Unido/Canadá/EUA/França/Irlanda, 2014]
Direção: Liv Ullmann
Elenco: Jessica Chastain, Colin Farrell, Samantha Morton.
Duração: 129 minutos

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