“Maria Madalena” quer mudar conceitos sobre discípula de Jesus

Maria Madalena chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (15) como um filme religioso para os tempos de #MeToo. Estrelado por Rooney Mara e escrito por duas mulheres, Helen Edmundson e Philippa Goslett, o longa destaca o pioneirismo de uma das mais enigmáticas personagens bíblicas, a quem frequentemente foi atribuído o rótulo de prostituta.

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Tal interpretação passa longe do filme dirigido por Garth Davis, de Lion: Uma Jornada Para Casa (2016), cuja visão da personagem está alinhada à descrita pelo papa Francisco. Em 2016, o pontífice elevou a festa de Santa Maria Madalena à categoria de festa litúrgica, para “assinalar a relevância desta mulher que mostrou grande amor por Cristo e que foi tão amada por Ele”, sendo “exemplo de autêntica evangelizadora” e a mensageira que “anunciou a boa notícia da ressurreição”.

No filme, Maria Madalena é uma jovem cheia de fé que mora em um pequeno vilarejo com sua família de pescadores. Ela desempenha as funções que lhe são determinadas, mas sente que algo a diferencia dos que estão ao redor: “Não sou como deveria ser”, afirma. O encontro com Jesus de Nazaré (Joaquim Phoenix) lhe traz as respostas que buscava, e Maria deixa o pai, os irmãos e o casamento que lhe estava arranjado para tornar-se a primeira mulher do grupo que seguirá o líder religioso até Jerusalém. É ela, aliás, a discípula que terá o relacionamento mais próximo com Jesus, testemunhando sua crucificação e, como destacou o papa Francisco, anunciando a ressureição.

Joaquim Phoenix e Rooney Mara em “Maria Madalena”

Na leitura do filme, Maria Madalena é uma personagem incompreendida, que teve sua reputação injustamente atacada porque ousou se recusar a seguir os padrões impostos às mulheres da época. O longa mostra a personagem como um ícone feminista cujo legado foi alterado por uma sociedade patriarcal à qual nunca se submeteu. “Eu serei ouvida”, diz ela durante discussão com Pedro (Chiwetel Ejiofor), em um dos momentos em que o filme dialoga com o contexto histórico atual.

Afora a interessante perspectiva feminina sobre a história de Jesus, Maria Madalena não traz muitas outras novidades. Davis optou por fazer uma adaptação clássica e convencional, com belas paisagens, direção de fotografia caprichada e trilha sonora épica – o último trabalho do compositor islandês Jóhann Jóhannsson, que morreu no mês passado. O elenco também é talentoso, tendo Mara à frente de um grupo de atores internacionais que inclui, além de Phoenix e Ejiofor, os franceses Tahar Rahim, de O Profeta (2009), e Denis Ménochet, de Custódia (2017), além da grega Ariane Labed, de Attenberg (2010), e do árabe-israelense Tawfeek Barhom, de O Ídolo (2015).

Tudo é muito profissional e de bom gosto, sem de fato ser marcante. Conforme as passagens da Bíblia vão se seguindo até chegar à crucificação, Maria Madalena nem se perde totalmente nem atinge momentos de grande brilho. Correr riscos não era a intenção de Davis, o que talvez seja compreensível quando se busca agradar tanto religiosos quanto o público em geral. Mas devo confessar que cheguei a torcer pela aparição inesperada daqueles enormes guardiões de pedra à la Transformers mostrados em Noé (2014) – que também não é um grande filme, mas intrigava um pouco mais.

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Este filme passa no teste de Bechdel-Wallace. Clique para saber mais.“Maria Madalena”
[Mary Magdalene, Reino Unido/Austrália, 2018]
Direção: Garth Davis
Elenco: Rooney Mara, Joaquim Phoenix, Chiwetel Ejiofor.
Duração: 120 minutos


Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema.

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